665+1=666 - Ez6
Vimos em nossa última nota a relação numérica entre a marca imposta pela ‘segunda besta’ de João e a data da visão de Ezequiel sobre certa imagem à entrada do Templo de Jerusalém.
Mas o que determinou esta ultrapassagem maligna do 665 para o 666? Ezequiel lança o alicerce – João em seu Apocalipse arremata a construção.
Comecemos pela segunda visão de Ezequiel na sequência daquela imagem externa que causava ciúmes – algo mais íntimo ocorria lá dentro.
“E disse-me: Filho do homem, cava agora naquela parede... Entra, e vê as malignas abominações que eles fazem aqui. E entrei, e olhei, e eis que toda a forma de répteis, e animais abomináveis, e de todos os ídolos da casa de Israel, estavam pintados na parede em todo o redor... Então me disse: Viste, filho do homem, o que os anciãos da casa de Israel 1) fazem nas trevas, 2) cada um nas suas câmaras pintadas de imagens? Pois dizem: 3) O Senhor não nos vê; o Senhor abandonou a terra” (Ez 8.8-12).
Três marcadores nefastos (às vezes precisamos cavar certas paredes ditas sólidas e exemplares para enxergar o que está oculto!) são os responsáveis pela decadência moral e espiritual, individual e coletiva, em todos os tempos – ‘trevas’, ’suas câmaras’ e ’o Senhor não nos vê’. É bem provável que esta sequência exata no texto indique, passo a passo, o desenvolvimento maligno de um sistema anti espiritual (como a semente de mostarda que, “crescendo... faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves [indesejáveis] do céu, e se aninham nos seus ramos” Mt 13.32) que culmina no senso distorcido e ridículo de que Deus já não vê.
1) Quanto às trevas de Israel... – “a condenação é esta: Que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo 3.19).
2) Quanto à posse daquelas câmaras que, a princípio, deveriam ser do Senhor... – “De que me serve a mim a multidão de vossos sacrifícios, diz o Senhor? Já estou farto dos holocaustos... Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios?” (Is 1.11-12).
3) E se Deus abandonou ou não seu amado povo terreno... – “Porque Israel e Judá não foram abandonados do seu Deus, do Senhor dos Exércitos, ainda que a sua terra esteja cheia de culpas contra o Santo de Israel” (Jr 51.5).
Ezequiel foi direcionado, de fora para dentro, até o mais interior do Templo para que entendesse o ponto de vista divino – os motivos que se viam fora e os que se escondiam dentro. As trevas espirituais profundas em que se encontravam os líderes de seu tempo eram as coisas ocultas que eram amadas e idolatradas – que faziam com que as câmaras do Senhor fossem tomadas por eles como suas propriedades particulares – e que os fazia por extensão pensar que Deus não via ou não se importava mais.
Dentro de suas seguras câmaras religiosas, sem que o povo comum – mal iluminado intencionalmente – soubesse o que se passava ali, o mal era forjado pelas trevas. Como diria o Messias para os religiosos de seu tempo mais à frente – “Se... a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!” (Mt 6.23).
O grande arquiteto por trás de tudo é e sempre será o pai das trevas – corrompendo, contaminando, tramando, mentindo – com vistas à sua entronização. O que ele ofertou para o primeiro casal era só a sombra do que ele mais desejava – “Eu subirei ao céu, acima das estrelas de Deus exaltarei o meu trono, e no monte da congregação me assentarei, aos lados do norte” (Is 14.13).
As vertentes ocultistas dentro do judaísmo – e dentro mesmo do cristianismo –, alimentadas pela idolatria visível ou imperceptível, serviram de argamassa para construir um sistema maligno que domina todos os meios, criando um sistema global econômico-religioso-social anti-Deus.
A Igreja como um todo não se resguardou deste mal. Uma das características citadas por João quando realça as 7 faces desta Igreja corporativa, trata exatamente deste tema sombrio, silencioso e ininterrupto.
“Mas eu vos digo a vós, e aos restantes que estão em Tiatira, a todos quantos não têm esta doutrina, e não conheceram, como dizem, as profundezas de Satanás, que outra carga vos não porei” (Ap 2.24).
O mundo judaico, o mundo das nações e o mundo ‘cristão’ estão finalmente enlaçados no mesmo projeto maligno – ainda que muitos não o admitirão! – para levantarem uma imagem comum de fé exatamente como a descrita em Apocalipse.
Só cabe um direcionamento do Senhor a todos que tiverem ouvidos para ouvir o que o Espírito diz. Pois ninguém será isentado de responsabilidade ainda que por ignorância.
“E ouvi outra voz do céu, que dizia: Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados, e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniquidades dela” (Ap 18.4-5).
Esta mensagem não teria sentido algum se o santo não estivesse perfeitamente acomodado e misturado ao profano. O joio e o trigo estão seguindo o mesmo triste destino e receberão o castigo pertinente, castigo este que começará brevemente com o vomitar desta igreja-morna em que vivemos, e culminará nos castigos descritos em Apocalipse a partir da abertura oficial dos selos pelo cordeiro-juiz divino.
Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas. O tempo chegou!