Os figos bons e maus - Jr6
Quem não conhece esta intrigante passagem com sua estranha simbologia? Uma imagem simples com significados profundos, tão profundos que desdobraremos seu significado primário a partir de Israel até nós em nossos dias, estes mesmos em que você e eu vivemos.
“Fez-me o SENHOR ver, e eis dois cestos de figos, postos diante do templo do SENHOR, depois que Nabucodonosor, rei de Babilônia, levou em cativeiro a Jeconias, filho de Jeoiaquim, rei de Judá, e os príncipes de Judá, e os carpinteiros, e os ferreiros de Jerusalém, e os trouxe a Babilônia. Um cesto tinha figos muito bons, como os figos temporãos; mas o outro cesto tinha figos muito ruins, que não se podiam comer, de ruins que eram” (Jr 24.1-2).
Esquecendo por um pouco o significado do símbolo em seu contexto, a dualidade simples atesta o que Deus vê. Para Ele não há figos meio-bons, nem figos meio-ruins. Ou eles são bons, ou são extremamente ruins e inúteis ao consumo. Em toda a Escritura, de Gênesis a Apocalipse, assim o Criador nos vê.
“Por seus frutos os conhecereis. Porventura colhem-se uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos? Assim, toda a árvore boa produz bons frutos, e toda a árvore má produz frutos maus. Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo” (Mt 7.16-19).
Poderíamos então, em nossa presunção maligna, achar que alguns poderiam ser classificados como bons ou melhores por seus próprios méritos. Qual a resposta do Senhor?
“Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. Não há ninguém que entenda; não há ninguém que busque a Deus. Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só” (Rm 3.10-12).
A velha questão da eleição ainda é um problema grave para o perdido, e não menos para o cristão. Sempre imaginamos que possuímos alguma coisa boa que Deus possa aproveitar. Deus não elege pelo nosso mérito, mas pela Sua incompreensível misericórdia e graça.
Voltando ao contexto, os figos ‘bons’ examinados por Jeremias se referem aos judeus que foram aprisionados e levados cativos para Babel, enquanto os maus eram os ‘sortudos’ que ficaram na terra para um castigo ainda maior. Não havia diferença aos olhos de Deus em relação àquele povo – todos foram condenados e receberam a justa retribuição. A diferença estava na atitude salvadora de Deus. Jesus ensinaria mais a frente sob outro ângulo falando deste mesmo assunto.
“E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis” (Lc 13.4-5).
A diferença gritante entre os figos não significava, não indicava uma diferença de caráter entre eles. Mostrava antes o que o Senhor faria, ou o destino que traçaria, para cada grupo. Os que foram condenados pela deportação para Babel provariam a grata misericórdia de Deus de retornarem para sua terra 70 anos depois. Mas os que ficaram ou restaram em Israel, seriam irremediavelmente condenados à destruição.
Também agora, uma diferença peculiar há entre o povo de Deus e o mundo que nos cerca. Todos estavam igualmente condenados aos olhos de Deus – mas somente os eleitos pela fé seriam alvo da salvação final que os separa do mundo.
Ao final, os que estiverem vivos pelo tempo da volta do Senhor, serão agraciados com seu encontro nos ares para estarem sempre com Ele. Os demais que restarem do mundo e dos que forem vomitados da igreja morna de Laodiceia, serão profundamente atormentados nos sete anos de tribulação que se seguem ao arrebatamento, assim como os figos.
Quanto ao povo judaico simbolizado pelos figos, devemos lembrar que a figueira representa o ministério de Governo dado a Israel. Ou seja, os figos bons representavam o governo que seria restaurado quando da volta dos do cativeiro, e os figos maus o governo que seria totalmente interrompido e aniquilado.
Como exemplo – para todas as eras – do que estamos tentando nortear, tanto o rei Jeoiaquim que havia sido deportado vários anos antes de Zedequias, e o próprio Zedequias como último rei de Judá, foram devidamente sentenciados pela mesma fórmula que a Palavra de Deus os condenava.
“E [Jeoiaquim] fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme tudo quanto fizeram seus pais” (2 Re 23.37).
“E [Zedequias] fez o que era mau aos olhos do Senhor, conforme tudo quanto fizera Jeoiaquim” (2 Re 24.19).
A condenação era a mesma, mas a graça alteraria os resultados.
“No ano trigésimo sétimo do cativeiro de Jeoiaquim... Evil-Merodaque, rei de Babilônia... levantou a cabeça de Jeoiaquim... e tirou-o do cárcere... e pôs o seu trono acima dos tronos dos reis que estavam com ele... E lhe fez mudar as vestes da sua prisão; e passou a comer pão sempre na presença do rei, todos os dias da sua vida” (Jr 52.31-33).
Quanto ao outro, “o rei de Babilônia degolou os filhos de Zedequias à sua vista... E cegou os olhos a Zedequias, e o atou com cadeias; e o levou para Babilônia, e o conservou na prisão até o dia da sua morte” (Jr 52.9-11).
Paulo resume e arremata a questão de forma inequívoca.
“Que diremos pois? Que há injustiça da parte de Deus? De maneira nenhuma. Pois diz a Moisés: Compadecer-me-ei de quem me compadecer, e terei misericórdia de quem eu tiver misericórdia. Assim, pois, isto não depende do que quer, nem do que corre, mas de Deus, que se compadece” (Rm 9.14-16).