A visão de um trono ainda mais sublime - Is2
O provável início, pelo menos oficial, do ministério de Isaías se dá com uma visão do trono celeste. Observemos com cuidado.
“No ano em que morreu o rei Uzias [c. 740 a.C], eu vi também ao Senhor assentado sobre um alto e sublime trono; e a cauda do seu manto enchia o templo” (Is 6.1).
O que me chamou a atenção nesta leitura em particular, foi o advérbio comparativo ‘também’. Ou seja, ele também havia visto outro rei em outro trono algum tempo antes. Ora, se como lemos, o rei Uzias havia morrido um pouco antes desta visão, certamente Isaías também assistiu à cerimônia de posse do filho do rei – Jotão.
Este evento se deu cerca de 250 anos depois de Salomão ter construído seu belo e incomparável trono.
“Fez mais o rei [Salomão] um grande trono de marfim, e o revestiu de ouro puríssimo. Tinha este trono seis degraus... e dois leões, em pé, juntos aos encostos. Também doze leões estavam ali sobre os seis degraus de ambos os lados; nunca se tinha feito obra semelhante em nenhum dos reinos” (1 Re 10.18-20).
O coroamento de Jotão deve ter impressionado Isaías. A pompa, a riqueza e o brilho gritavam alto. Mas faltava algo que era fundamental no trono de Deus, que ele profunda e intensamente sentiu – santidade. Continuemos sua visão celeste.
“Serafins estavam por cima dele [do Altíssimo]; cada um tinha seis asas; com duas cobriam os seus rostos, e com duas cobriam os seus pés, e com duas voavam. E clamavam uns aos outros, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória” (6.2-3).
Fazendo agora um parêntesis no assunto principal, ¿não poderíamos entender que estes seres sejam os mesmos revelados em Apocalipse, porém com descrição um tanto diferente?
“E havia diante do trono um como mar de vidro, semelhante ao cristal. E no meio do trono, e ao redor do trono, quatro animais [ou seres viventes, melhor tradução] cheios de olhos, por diante e por detrás. E o primeiro ‘ser vivente’ era semelhante a um leão, e o segundo animal... a um bezerro, e tinha o terceiro ‘ser vivente’ o rosto como de homem, e o quarto... a uma águia voando. E os quatro ‘seres viventes’ tinham, cada um de per si, seis asas, e ao redor, e por dentro, estavam cheios de olhos; e não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo, é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir” (Ap 4.6-8).
As posições alteradas (de cima na visão de Isaías, para o centro em Apocalipse) e o acréscimo nas suas constituições (olhos e aparência) da descrição apocalíptica, não garantem que se tratem de outros seres que Isaías não viu, mas que eles passaram por um aperfeiçoamento espiritual, alterando suas posições e percepções, exatamente como ocorre conosco em nossa jornada cristã.
Suas aclamações (da glória santa que preenchia toda a terra em aparência estática e que passaria a se manifestar no tempo humano era-é-virá) mudaram pois suas perspectivas do reino de Deus mudaram, levando a um entendimento mais aprofundado de Deus e seu trono. Assim como Lúcifer foi afastado de Deus por sua rebeldia, estes foram aproximados pela obediência e conformação aos desígnios do Trono. Basta uma passagem para ilustrar seu contínuo aprendizado e aperfeiçoamento.
“Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada... para as quais coisas os anjos desejam bem atentar” (1 Pe 1.10-12).
Ou seja, eles atentam bem para as resoluções divinas, aprendem e se aperfeiçoam, galgando posições e recebendo galardões por seu santo serviço.
E quanto a nós, a quem já são chegados os fins dos tempos?!
Temos observado cuidadosamente os tempos e as estações que o Pai tem delimitado paulatinamente diante de nossos olhos?
Temos mudado nossas perspectivas do reino de Deus em constante progresso?
Ou nossa exultação e aclamação tem sido meramente repetitiva ao cairmos na ‘mesmice’ da falsa aparência do mundo, e nas interpretações e pregações cômodas que não aperfeiçoam com o tempo?
Isaías pôde ver muito além do alcance. Entendeu a diferença entre um reino passageiro arrastado e remendado por homens viciados e um reino eterno e justo implantado à força por um Deus glorioso e santo.
E estas diferenças percorrem todo seu livro, o que passaremos a analisar em nossa próxima nota, observando o contraponto entre dois termos representativos da mesma nação – Jacó e Israel.