Os presentes do Noivo - Ct5

O relacionamento entre Israel e seu Deus, bem como da Igreja e Cristo, seguem a espontaneidade, escolhas e vicissitudes da vida de qualquer casal humano. Tudo o que vivemos e experimentamos em nossas relações amorosas são reprisadas nestes dois casais. Nem poderia ser diferente. Jesus já apresentava a fórmula.

“Se vos falei de coisas terrestres, e não crestes, como crereis, se vos falar das celestiais?” (Jo 3.12).

As coisas físicas e humanas são reflexo das coisas espirituais e divinas.

Comentamos em nossa nota passada sobre algumas falas, tanto da noiva quanto do Noivo, que escondiam de forma poética o real estado e intenções deles neste livro de Cantares. Mas o Noivo também tem palavras de real ternura – ou seja, são exatamente o que dizem ser – para com sua amada, apesar do estado visto e predito de sua degradação.

“Se tu não o sabes, ó mais formosa entre as mulheres...” (1.8).

“O meu amado fala e me diz: Levanta-te, meu amor, formosa minha, e vem” (2.10).

Sua formosura já era notada na profecia de Balaão muito antes.

“Fala aquele que ouviu as palavras de Deus, o que vê a visão do Todo-Poderoso; que cai, e se lhe abrem os olhos: Quão formosas são as tuas tendas, ó Jacó, as tuas moradas, ó Israel!” (Nm 24.4-5).

Mas o que Deus via em Israel não era dela propriamente. Nada havia nela de gracioso propriamente que O atraísse.

“O Senhor não tomou prazer em vós, nem vos escolheu, porque a vossa multidão era mais do que a de todos os outros povos, pois vós éreis menos em número do que todos os povos” (Dt 7.7).

Então o que O levou a esta escolha?

“Porque o Senhor vos amava, e para guardar o juramento que fizera a vossos pais, o Senhor vos tirou com mão forte e vos resgatou da casa da servidão, da mão de Faraó, rei do Egito” (Dt 7.8).

O que definiu a escolha deste pequeno e desprezado povo foi aquele amor incondicional e constrangedor do Criador que, mesmo vendo e antecipando a mais profunda miséria deles – e também a nossa debaixo do Novo Testamento – resolve amar e presentear.

Assim, à simplicidade das tendas em que vivia toda nação de Israel pelos caminhos do deserto, logo depois que saíram do Egito, uma tenda divina – única no Universo – mais formosa e rica foi doada pelo Noivo como presente máximo a Israel.

“Porque um tabernáculo estava preparado, o primeiro, em que havia o candeeiro, e a mesa, e os pães da proposição; ao que se chama o santuário. Mas depois do segundo véu estava o tabernáculo que se chama o santo dos santos, que tinha o incensário de ouro, e a arca da aliança, coberta de ouro toda em redor; em que estava um vaso de ouro, que continha o maná, e a vara de Arão, que tinha florescido, e as tábuas da aliança; e sobre a arca os querubins da glória, que faziam sombra no propiciatório” (Hb 9.2-5).

O livro de Cantares que examinamos contém indícios deste presente sublime do Noivo à noiva.

“Enfeites de ouro te faremos, com incrustações de prata” (1.11).

“Quem é esta que sobe do deserto, como colunas de fumaça, perfumada de mirra, de incenso, e de todos os pós dos mercadores [percebe a mistura do santo com o profano]?” (3.6).

“O meu amado pôs a sua mão pela fresta da porta [não poderia ser o véu de separação entre o santo e o santíssimo?]... mas já o meu amado tinha se retirado [não se retiraria na visão futura de Ezequiel, capítulos 10 e 11?]” (5.4,6).

Infelizmente, apesar de todo amor, todo cuidado, todo zelo, toda provisão do Eterno para com seu povo terreno, Israel sucumbiu aos encantos do mundo e se prostituiu em adultérios. É o que analisaremos daqui em diante estudando a sessão dos profetas maiores – Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel.

Tentaremos alcançar os profetas menores em seguida, enquanto podemos caminhar pela luz do Salvador Jesus, e antes que sejamos elevados às bodas do Cordeiro.