Os encantos do Noivo - Ct3
Comentamos em nossa nota anterior, quando analisávamos os encantos dos ‘pombinhos’ – Israel e Senhor – que a noiva era enaltecida pelo Noivo com palavras carinhosas – ‘pomba minha’, formosas faces’... – embora, em linguagem sutil que não ferisse a poesia do livro de Cânticos, Ele delicadamente indicava já sua lascívia.
Agora daremos uma espiada nos encantos do Noivo, pelo prisma da noiva.
Ela diz reconhecer Nele – ou somente O agrada e enreda com palavras lisonjeiras? – seu valor moral e perfeito.
“Suave é o aroma dos teus unguentos; como o unguento derramado é o teu nome; por isso as virgens te amam” (1.3).
Acho que não precisamos relembrar dos unguentos derramados sobre o corpo de Jesus logo após sua morte. Mas observe que, apesar da noiva como um todo, ou seja, a nação judaica diz aprovar seu unguento, somente as virgens o amam. Estas virgens, segundo o testemunho constante das profecias do Antigo Testamento, falam daquele remanescente fiel que cria e vivia pela fé no Deus vivo e na vinda do Messias.
“Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm 9.27).
“Ainda te edificarei, e serás edificada, ó virgem de Israel! Ainda serás adornada com os teus tamboris, e sairás nas danças dos que se alegram” (Jr 31.4).
A nação como um todo, especialmente representado pelos líderes, não apreciou o bom perfume de Cristo.
“E toda a multidão se admirava e dizia: Não é este o Filho de Davi? Mas os fariseus, ouvindo isto, diziam: Este não expulsa os demônios senão por Belzebu, príncipe dos demônios” (Mt 12.23-24).
A partir daqui, Jesus começa a lhes pregar por parábolas, “porque eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis, e, vendo, vereis, mas não percebereis. Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviram de mau grado com seus ouvidos, e fecharam seus olhos; para que não vejam com os olhos, e ouçam com os ouvidos, e compreendam com o coração, e se convertam, e eu os cure” (Mt 13.13-15).
Ainda que a virgem remanescente e fiel cresse no seu Messias, a maioria restante acabou sendo contaminada pelos líderes que O negavam.
“Vendo-o, pois, os principais dos sacerdotes e os servos, clamaram, dizendo: Crucifica-o, crucifica-o” (Jo 19.6).
Valeu para eles uma conhecida figura de Paulo usada para a Igreja hoje.
“Porque para Deus somos o bom perfume de Cristo, nos que se salvam e nos que se perdem. Para estes certamente cheiro de morte para morte; mas para aqueles cheiro de vida para vida” (2 Co 2.15-16).
Continuemos no jogo das palavras sutis da noiva, querendo agradar ao noivo, mas sobressaindo seu próprio desconforto.
“O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. Até que refresque o dia, e fujam as sombras, volta, amado meu...” (2.16-17).
Por que o amado deveria voltar? Para onde Ele havia ido? Por que sombras se apresentavam no relacionamento? Por que esperar refrescar o dia?
“Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei; com um pouco de ira escondi a minha face de ti por um momento; mas com benignidade eterna me compadecerei de ti, diz o Senhor, o teu Redentor” (Is 54.7-8).
“Irei e voltarei ao meu lugar, até que se reconheçam culpados e busquem a minha face; estando eles angustiados, de madrugada me buscarão” (Os 5.15).
Ela sabe que tem grande culpa diante do Noivo, mas não quer se arrepender. Suas palavras adulatórias não condizem com o estado real do seu coração.
O Noivo é belo, formoso, perfeito, desejado, mas...
“O meu amado é branco e rosado; ele é o primeiro entre dez mil” (5.10).
Mas aquele Amado não deveria ser o único? O que ela tinha a ver com os outros 9.999?
“Eu dormia, MAS o meu coração velava; e eis a voz do meu amado que está batendo: abre-me, minha irmã, meu amor, pomba minha, imaculada minha, porque a minha cabeça está cheia de orvalho, os meus cabelos das gotas da noite” (5.2).
Quem em sã consciência, se o coração velava sinceramente pelo Amado, poderia dormir? Os 3 discípulos no Monte das Oliveiras poderiam usar tal desculpa pelo sono desenfreado ante a repreensão do Senhor?
Não! O que lhe passava no íntimo era eco das próprias palavras do Noivo mais à frente.
“Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim” (Mt 15.8).
Esta falsa atitude não podia ficar impune...