A busca de Salomão – Ec2
Quando buscamos a Deus é porque algo nos incomoda, fere, corrói, indigna...
“O Senhor olhou desde os céus para os filhos dos homens, para ver se havia algum que tivesse entendimento e buscasse a Deus. Desviaram-se todos e juntamente se fizeram imundos: não há quem faça o bem, não há sequer um” (Sl 14.2-30.
Buscamos a Deus não pela glória divina que Lhe é devida, mas basicamente para responder a nossos anseios e dores. E vamos diferenciar a partir daqui um jogo de pensamentos – a busca sem resultados de Salomão de um lado, e do outro como o Novo Testamento responderia se ele tivesse tido acesso a este novo e maravilhoso cenário.
A sabedoria de Salomão, presa a este mundo, não trouxe as respostas mais íntimas que seu coração exigia – diferentemente da sabedoria celestial do Filho.
“O meu coração contemplou abundantemente a sabedoria e o conhecimento. E apliquei o meu coração a conhecer a sabedoria e a conhecer os desvarios e as loucuras, e vim a saber que também isto era aflição de espírito. Porque na muita sabedoria há muito enfado; e o que aumenta em conhecimento, aumenta em dor” (1.16-18).
“Visto como na sabedoria de Deus o mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (1 Co 1.21).
Ele também provou da alegria cotidiana para ver se podia consolá-lo.
“Disse eu no meu coração: Ora vem, eu te provarei com alegria; portanto goza o prazer; mas eis que também isso era vaidade” (2.1).
“Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm 14.17) – a verdadeira alegria depende exclusivamente da atuação constante do Espírito de Cristo.
A bebida também foi considerada por Salomão como alternativa ao seu enfado.
“Busquei no meu coração como estimular com vinho a minha carne (regendo porém o meu coração com sabedoria) [quem já bebeu sabe que sabedoria e vinho jamais convivem juntas], e entregar-me à loucura” (2.3).
“Por isso não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor. E não vos embriagueis com vinho, em que há contenda [da carne com o espírito], mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.17-18).
A engenharia e jardinagem também foram uma boa tentativa.
“Fiz para mim obras magníficas; edifiquei para mim casas; plantei para mim vinhas. Fiz para mim hortas e jardins, e plantei neles árvores de toda a espécie de fruto” (2.4-5).
“E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem insensato, que edificou a sua casa sobre a areia; e desceu a chuva, e correram rios, e assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda” (Mt 7.26-27).
A posse das coisas materiais e a comodidade também não bastaram.
“Adquiri servos e servas, e tive servos nascidos em casa; também tive grandes possessões de gados e ovelhas, mais do que todos os que houve antes de mim em Jerusalém. Amontoei também para mim prata e ouro, e tesouros dos reis e das províncias” (2.7-8).
“Não junteis tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem tudo consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem consomem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará também o vosso coração” (Mt 6.19-21).
Seu ‘home theater’ era ao vivo e particular, mas também falhou em descansar sua alma.
“Provi-me de cantores e cantoras, e das delícias dos filhos dos homens; e de instrumentos de música de toda a espécie” (2.8).
“Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5.19).
E se ele pudesse viver em nossos dias, provavelmente acessaria a mais nova e requintada tecnologia das distrações. Mas o desconsolo dele seria o mesmo de milhões que estão sempre a buscar, mas nunca a alcançar, pela insuficiência e incapacidade de tocar na sede dos nossos problemas – o espírito.
Aliás, quanto maior a distração, maior a desilusão – assunto de nossa próxima nota.