O terceiro amigo e um quarto verdadeiro - Jó6

Zofar, o último dos 3 amigos, não diferencia muito sua fala dos anteriores, mas faz a gentileza de acrescentar maior castigo.

Vou transcrever 4 traduções de sua fala principal – 11.5-6.

“Mas na verdade, quem dera que Deus falasse e abrisse os seus lábios contra ti! E te fizesse saber os segredos da sabedoria, que é multíplice em eficácia; sabe, pois, que Deus exige de ti menos do que merece a tua iniquidade” (Corrigida Fiel).

“Ah, se Deus lhe falasse, se abrisse os lábios contra você e lhe revelasse os segredos da sabedoria! Pois a verdadeira sabedoria é complexa. Fique sabendo que Deus esqueceu alguns dos seus pecados” (Nova Versão Internacional).

“Eu gostaria que Deus falasse e lhe desse uma resposta! Ele lhe ensinaria os segredos da sabedoria, pois há mistérios na explicação das coisas. Assim, você veria que Deus o está castigando menos do que você merece” (Nova Tradução Linguagem de Hoje).

“Oh, se Deus falasse e te dissesse o que pensa! Oh, se ele te fizesse ver exatamente quem tu és, porque ele sabe bem tudo o que tens feito. Ouve! Deus, sem dúvida alguma, está a castigar-te, mas está a fazê-lo muito menos do que mereces!” (O Livro).

Em qualquer das traduções, por mais ou menos exaltada, duas coisas são certas para Zofar – Deus estava castigando Jó por suas transgressões – e menos do que ele merecia.

Até aqui nenhuma novidade. Mas vamos desatar agora os nós deste julgamento precipitado e indevido. Devemos entender a problemática erguida pelos acusadores, distinguindo duas bases de condenação – a natureza do pecado e o pecado pessoal propriamente. O pecado, qualquer que seja ele, é fruto de nossa natureza caída e pecaminosa. Pela natureza que herdamos de Adão depois da queda, todos estamos condenados inexoravelmente, mas que o Antigo Testamento não tratava tão claramente quanto o Novo.

“Porque, como pela desobediência de um só homem [pecado pessoal de Adão no Éden], muitos foram feitos pecadores [natureza pecaminosa transmitida a todos os descendentes], assim pela obediência de um [justiça de Jesus na cruz] muitos serão feitos justos [pela fé no sacrifício do Filho]” (Rm 5.19).

Ninguém poderia atestar nosso estado íntimo de pecadores se não fossem os pecados cometidos exteriormente. Estes são a prova daquele.

“Porque cada árvore se conhece pelo seu próprio fruto; pois não se colhem figos dos espinheiros, nem se vindimam uvas dos abrolhos” (Lc 6.44).

Uma figueira não deixa de ser figueira se ela não produzir figos. E Jó não estava isento da natureza do pecado, mesmo que sua vida fosse justa ao ponto de ninguém poder comprovar algum pecado em sua vida, como tentaram seus acusadores. Jó não seria inocentado jamais ao olhos divinos, ainda que sua conduta diante de Deus e dos homens fosse exemplar, como ele mesmo garantia e já frisamos anteriormente.

Um quarto amigo que se reuniu posteriormente aos 3 primeiros, Eliú, não vai condená-lo por algum pecado pessoal, antes vai exaltar a justiça e perfeição absolutas de Deus que se elevam sobre qualquer mortal pecador por natureza.

“Eis que vim de Deus, como tu; do barro também eu fui formado. Eis que não te perturbará o meu terror, nem será pesada sobre ti a minha mão” (33.6-7).

“Se Ele pusesse o seu coração contra o homem, e recolhesse para si o seu espírito e o seu fôlego, toda a carne juntamente expiraria, e o homem voltaria para o pó” [Eliú não se refere a algum pecado específico, mas à condenação derivada da pecaminosidade humana diante da justiça e santidade absolutas de Deus] (34.14-15).

Nosso maior mal está em julgarmos o próximo quando somos feitos do mesmo material. Somado ao fato que julgamos através de uma análise momentânea, como que por uma pequena fresta, sem levar em conta toda a soma da vida que somente Deus tem acesso amplo.

“Tens por direito dizeres: Maior é a minha justiça do que a de Deus?... Eis que Deus é excelso em seu poder... Eis que Deus é grande, e nós não o compreendemos, e o número dos seus anos não se pode esquadrinhar... Com a sua voz troveja Deus maravilhosamente; faz grandes coisas, que nós não podemos compreender... em Deus há uma tremenda majestade. Ao Todo-Poderoso não podemos alcançar; grande é em poder; porém a ninguém oprime em juízo e grandeza de justiça. Por isso o temem os homens; ele não respeita os que se julgam sábios de coração” (35.2; 36.22,26; 37.5,22-24).

Sem dúvida alguma, Eliú tinha uma concepção melhor de Deus e do homem em suas relações mútuas, e por isto mesmo não foi condenado por Ele quando incumbiu Jó da tarefa de orar e sacrificar somente pelos três amigos primeiros.

“Tomai, pois, sete bezerros e sete carneiros, e ide ao meu servo Jó, e oferecei holocaustos por vós, e o meu servo Jó orará por vós; porque deveras a ele aceitarei” (42.8).

E também Jó só foi aceito aos olhos de Deus depois de sacrificar, orar – mas principalmente perdoar – seus detratores.

“Então foram Elifaz, Bildade e Zofar, e fizeram como o Senhor lhes dissera; e o Senhor aceitou a face de Jó” (42.9).

Vou finalizar trazendo a resposta de Deus para o desafio de Zofar, quando ele desejava “que Deus falasse e abrisse os seus lábios”.

“Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo... O qual, sendo o resplendor da sua glória [emanação perfeita em carne de todas as perfeições do Todo Poderoso], e a expressa imagem da sua pessoa, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação dos nossos pecados, assentou-se à destra da majestade nas alturas...” (Hb 1.1-3).