Uma prévia do futuro – Ester entronizada - Et6
Dito o que dissemos sobre a sombra do personagem Hamã, passamos agora a comentar sobre o eixo central deste livro. E talvez muitos não venham a gostar do que vamos propor sobre sua graciosa pessoa. O fato é que somos bombardeados com conceitos equivocados que prejudicam uma interpretação sadia e espiritual da Palavra escrita de Deus. Ester é um caso extremo, e o fato da pessoa de Deus estar totalmente escondida neste livro deveria gritar aos ouvidos de seu povo e por extensão a nós.
Vamos começar então com uma comparação com outra mulher do passado, em situação totalmente diferente é verdade, mas sendo isto mesmo que nos dará material para entendermos a posição escatológica deste livro.
“E Jael saiu ao encontro de Sísera [não se escondeu], e disse-lhe: Entra [ação ativa], senhor meu, entra aqui, não temas. Ele entrou na sua tenda, e ela o cobriu com uma coberta.... Então Jael, mulher de Héber, tomou uma estaca da tenda, e lançou mão de um martelo, e chegou-se mansamente a ele, e lhe cravou a estaca na fonte, de sorte que penetrou na terra, estando ele, porém, num profundo sono, e já muito cansado; e assim morreu” (Jz 4.18,21).
Somado ao peso de que esta mulher fosse gentia, já que seu marido era midianita, está o fato em si mesmo de que esta mulher – apesar de não-judia – posicionou-se decidida e decisivamente ao lado de Israel.
Não seria o caso com Ester (lembramos seu titubear ante a necessidade de comparecer ante seu rei), já que sua posição como rainha ao lado do inimigo trazia uma acomodação aos desafios e necessidades de seu povo. Jael posicionou-se contrariamente aos nativos de sua própria gente na Palestina, já que seria de esperar que estivesse do lado de Sísera, inimigo de Israel, pois jamais ele iria se refugiar em tenda israelita.
Ester se posicionou, ou antes foi posicionada, ao lado do inimigo pela situação de escravidão de Israel sob o comando da Pérsia, na pessoa de Assuero. Certo é que acabou intervindo pelo clamor de Mardoqueu, mas foi pelo clamor de um justo e não pela atividade positiva do seu coração propriamente, pois ela estava alheia ao que se passava com seu povo.
Jael trouxe o inimigo de outro povo à sua tenda para matá-lo. Ester dormia com o inimigo de seu próprio povo, depois que este a trouxe para sua ‘tenda’.
Por esta razão é que o Deus de Israel sumiu da narrativa deste livro, pois seu povo estava vendido aos inimigos, sem forças para se reerguer. O que foi negligência no passado, tornou-se vício que levou ao conforto e mais tarde perfeita conformação. Um pouco de fermento sempre levedará toda massa. É só uma questão de tempo.
Neste tempo em que vivemos, também Israel, embora relativamente seguro em seu território reconquistado, tem um Deus ausente dos seus negócios. Parece que as circunstâncias são mais aleatórias que determinantes. Ninguém teve dúvida da ação gloriosa do Deus de Israel quando do Mar Vermelho aberto para sua fuga do Egito.
Hoje, todas as dúvidas são levantadas pelos gentios se qualquer ação milagrosa seja sorteada sobre Israel, visto não ser clara, inequívoca, mas como que realizada nos bastidores. Voltará o tempo em que o braço do Senhor se estenderá novamente, e ninguém terá dúvida da sua ação onipotente. O mesmo acontece com a Igreja de Cristo hoje!
Guardadas as devidas proporções, uma mulher também em breve se assentará ‘ao colo do inimigo’, e descansará regaladamente sobre uma estranha figura. Deixaremos para frente uma interpretação mais cuidadosa. Por ora vamos lançar apenas uma dúvida ou uma luz em seu coração.
“E levou-me em espírito a um deserto, e vi uma mulher assentada sobre uma besta de cor de escarlata, que estava cheia de nomes de blasfêmia, e tinha sete cabeças e dez chifres.
E a mulher estava vestida de púrpura e de escarlata, e adornada com ouro, e pedras preciosas e pérolas; e tinha na sua mão um cálice de ouro cheio das abominações [corrupção do ministério governamental] e da imundícia da sua fornicação;
E na sua testa estava escrito o nome: Mistério, a grande babilônia, a mãe das prostituições [corrupção do ministério sacerdotal] e abominações da terra.
E vi que a mulher estava embriagada do sangue dos santos [corrupção do ministério profético], e do sangue das testemunhas de Jesus. E, vendo-a eu, maravilhei-me com grande admiração” (Ap 17.3-6).
Esta mulher é Jerusalém!
Esqueça todas as interpretações tendenciosas, viciadas, fáceis, agradáveis ao ouvido, inimigas do estudo constante, literal e comparativo de toda a Escritura Sagrada. Como dissemos há pouco, não entraremos na interpretação deste símbolo. Isto deixaremos quando analisarmos os profetas maiores e menores.
Assim como Ester se assentou num trono que nunca foi proposto por Deus em sua vontade diretiva, mas somente permissiva, ainda que tenha sido para libertação futura de seu povo, igualmente Jerusalém se assentará no trono da besta que se erguerá em breve. Também no caráter permissivo de Deus, obviamente, e que culminará na sua maior angústia e libertação final de todos os seus inimigos.
A seguir, comentaremos sobre a forca de Hamã.