O vinho de Israel - Et4

Para não dizermos que era estranho, vamos dizer que era muito interessante o estado de Ester depois de entronizada junto ao seu senhor e rei. Era de se supor que, embora um tanto distante de sua família, uma vez que cumpria as vezes da rainha deposta, todavia buscasse saber e se preocupar com as condições de seu povo sofredor e escravizado.

Mas no momento mais crucial dos trâmites governamentais que trariam a maior desgraça ao povo cativo em terra estranha, ela não só desconhece o futuro de seu povo quanto ainda tenta mudar o estado de espírito de seu pai. Lembra-nos Pedro inconformado e indignado com o anúncio de Jesus de sua morte iminente.

“E em todas as províncias aonde a palavra do rei e a sua lei chegava, havia entre os judeus grande luto, com jejum, e choro, e lamentação; e muitos estavam deitados em saco e em cinza. Então vieram as servas de Ester, e os seus camareiros, e fizeram-na saber, do que a rainha muito se doeu; e mandou roupas para vestir a Mardoqueu, e tirar-lhe o pano de saco; porém ele não as aceitou” (Et 4.3-4).

Não queremos julgar, mas é difícil interpretarmos este alheamento de Ester, este descuidado ou mesmo negligência, se não que algo inebriante estivesse agindo em sua vida e ofuscando sua real percepção das coisas. Como já propomos anteriormente, a informação inicial a respeito de qualquer personagem bíblico é um artifício divino – uma dica! – para inclinar nossa atenção para suas qualidades e defeitos que seguirão.

“E a moça pareceu formosa aos seus olhos, e alcançou graça perante ele; por isso se apressou a dar-lhe os seus enfeites, e os seus quinhões, como também em lhe dar sete moças de respeito da casa do rei; e a fez passar com as suas moças ao melhor lugar da casa das mulheres” (2.9).

O preparo destas jovens era de um requinte desmedido, “porque assim se cumpriam os dias das suas purificações – seis meses com óleo de mirra, e seis meses com especiarias, e com as coisas para a purificação das mulheres” (2.12).

Sob o peso destas condições aliciantes, somado ao ‘fardo’ de sua submissão debaixo do grande rei de 127 províncias, fica mais fácil entender que o seu ‘mundinho de princesa’ afastava sua comunhão das necessidades mais profundas de seu povo. Nem vamos insistir que “ninguém pode servir a dois senhores; porque ou há de odiar um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e a Mamom [riquezas]” (Mt 6.24).

Israel também está embebida de um sonho da vinda de seu messias libertador, que os levaria ao mais glorioso destino, e que tem alardeado pela mídia mundial. Acabamos de presenciar um grande sinal da proximidade do fim desta era da Igreja há alguns dias – precisamente 21/02/21 – quando judeus de todo o mundo foram conclamados a fazer uma oração pedindo a vinda de seu messias. Obviamente que eles não contam ou lembram que seu cordeiro pascal já veio e foi brutalmente rejeitado! E para este equívoco, não poderia haver uma condenação mais atroz que as palavras de Isaías.

“Tardai, e maravilhai-vos, folgai, e clamai; bêbados estão, mas não de vinho, andam titubeando, mas não de bebida forte. Porque o Senhor derramou sobre vós um espírito de profundo sono, e fechou os vossos olhos, vendou os profetas, e os vossos principais videntes” (Is 29.9-10).

Jeremias também profetizava de uma bebida atordoante para seu povo.

“Portanto, dize-lhes esta palavra: Assim diz o Senhor Deus de Israel: Todo o odre se encherá de vinho; e dir-te-ão: Porventura não sabemos nós muito bem que todo o odre se encherá de vinho?

Mas tu dize-lhes: Assim diz o Senhor: Eis que eu encherei de embriaguez a todos os habitantes desta terra, e aos reis da estirpe de Davi, que estão assentados sobre o seu trono, e aos sacerdotes, e aos profetas, e a todos os habitantes de Jerusalém.

E fá-los-ei em pedaços atirando uns contra os outros, e juntamente os pais com os filhos, diz o Senhor; não perdoarei, nem pouparei, nem terei deles compaixão, para que não os destrua.

Escutai, e inclinai os ouvidos; não vos ensoberbeçais; porque o Senhor falou:

Dai glória ao Senhor vosso Deus, antes que venha a escuridão e antes que tropecem vossos pés nos montes tenebrosos; antes que, esperando vós luz, ele a mude em sombra de morte, e a reduza à escuridão” (Jr 13.12-16).

Moisés, durante a jornada de Israel ainda no deserto, já antevia o triste embriagamento de seu rabinato secular, afastado da verdadeira Rocha divina pelo anseio da rocha humana.

“Como poderia ser que um só perseguisse mil, e dois fizessem fugir dez mil, se a sua Rocha os não vendera, e o Senhor os não entregara?

Porque a sua rocha [falso messias] não é como a nossa Rocha [o Messias desprezado], sendo até os nossos inimigos juízes disto.

Porque a sua vinha é a vinha de Sodoma e dos campos de Gomorra; as suas uvas são uvas venenosas, cachos amargos têm.

O seu vinho é ardente veneno de serpentes, e peçonha cruel de víboras.

Não está isto guardado comigo? Selado nos meus tesouros?

Minha é a vingança e a recompensa, ao tempo que resvalar o seu pé; porque o dia da sua ruína está próximo, e as coisas que lhes hão de suceder, se apressam a chegar” (Dt 32.30-35.

Prepare-se! Os dias do fim já estão contados!