Um toque e o amor
Um toque e o amor
A vida está sempre a nos ensinar, nas pequenas e nas grandes coisas. Muitas vezes buscamos aprender com grandes teóricos coisas sobre o amor, o perdão e o equilíbrio, porém, esquecemo-nos de observar o mundo ao nosso redor. No final de uma tarde, encontrava-me presente no rito de sepultar entes queridos. Entristecida, prestava a última homenagem a uma jovem-mãe com apenas trinta primaveras. Filha, mãe, esposa, sobrinha, prima, amiga. Acometida pela dilaceração de um câncer. Olhava a cena na tentativa de compreender o porquê determinadas circunstâncias se repetem em alguns sistemas familiares. Será maldição? Será lealdade sistêmica? Será a necessidade intima de se libertar da mágoa, do ressentimento, do passado, do apego à dor? Tantas indefinições. Quero me libertar de todos os padrões repetitivos que trazem dores. Quero me libertar de minhas memórias equivocadas de um passado que aprisiona. Em total ignorância, questiono a Deus a razão de recolher a vida de uma mãe tão jovem e deixara a minha. Por quanto tempo acalentei o desejo de partir, entretanto, jovens partiam deixando pequenos órfãos. Em meio a lucubrações desvairadas, contemplo o pai (meu tio, irmão de meu pai) a olhar o neto silencioso e cabisbaixo. Talvez estivesse a pensar o que será de mim sem minha mãe? Por que minha mãe? Consternada, minhas lentes perceberam a chama reluzente que saiam dos olhos daquele avô ao netinho. A cena me tocou. O neto alheio, talvez, não percebera quanto amor reluzia de seu avô que se limitou a tocar repetidas vezes em seu ombro. Recordei-me de quantas vezes não soube ler aquele mesmo gesto de amor de meu pai. Não compreendia que ali seria seu jeito máximo de expressar o amor, de dizer: - Filha, estou aqui e amo você. Quantas vezes não me senti amada por ansiar ouvir um eu te amo. Quantas vezes recebi aqueles toques na cabeça, nas costas, nos ombros. Quantas vezes busquei pessoas, no meu inconsciente, semelhantes ao meu pai. A cena gravada em minha memória fez-me entender que sempre fui amada, sinto este amor forte e presente em mim. Entendi que o amor sempre será o caminho para curar nossas dores, principalmente, as dores da criança que se sente ferida. Exercício da compaixão. Ao reconhecer no meu tio, os gestos de meu pai, compreendi que provavelmente tiveram de seus pais a mesma linguagem para expressar o amor. Todos nós somos ávidos por dar e receber o amor. Que o amor sempre nos toque, derrubando as muralhas das incompreensões com muito amor, compaixão, respeito às histórias vividas e, sobretudo, dando-nos força para seguir agradecendo pela vida, pois ainda a tempo de reescrever uma nova história.
Com amor, uma prima, uma sobrinha e uma filha.
Um toque e o amor
A vida está sempre a nos ensinar, nas pequenas e nas grandes coisas. Muitas vezes buscamos aprender com grandes teóricos coisas sobre o amor, o perdão e o equilíbrio, porém, esquecemo-nos de observar o mundo ao nosso redor. No final de uma tarde, encontrava-me presente no rito de sepultar entes queridos. Entristecida, prestava a última homenagem a uma jovem-mãe com apenas trinta primaveras. Filha, mãe, esposa, sobrinha, prima, amiga. Acometida pela dilaceração de um câncer. Olhava a cena na tentativa de compreender o porquê determinadas circunstâncias se repetem em alguns sistemas familiares. Será maldição? Será lealdade sistêmica? Será a necessidade intima de se libertar da mágoa, do ressentimento, do passado, do apego à dor? Tantas indefinições. Quero me libertar de todos os padrões repetitivos que trazem dores. Quero me libertar de minhas memórias equivocadas de um passado que aprisiona. Em total ignorância, questiono a Deus a razão de recolher a vida de uma mãe tão jovem e deixara a minha. Por quanto tempo acalentei o desejo de partir, entretanto, jovens partiam deixando pequenos órfãos. Em meio a lucubrações desvairadas, contemplo o pai (meu tio, irmão de meu pai) a olhar o neto silencioso e cabisbaixo. Talvez estivesse a pensar o que será de mim sem minha mãe? Por que minha mãe? Consternada, minhas lentes perceberam a chama reluzente que saiam dos olhos daquele avô ao netinho. A cena me tocou. O neto alheio, talvez, não percebera quanto amor reluzia de seu avô que se limitou a tocar repetidas vezes em seu ombro. Recordei-me de quantas vezes não soube ler aquele mesmo gesto de amor de meu pai. Não compreendia que ali seria seu jeito máximo de expressar o amor, de dizer: - Filha, estou aqui e amo você. Quantas vezes não me senti amada por ansiar ouvir um eu te amo. Quantas vezes recebi aqueles toques na cabeça, nas costas, nos ombros. Quantas vezes busquei pessoas, no meu inconsciente, semelhantes ao meu pai. A cena gravada em minha memória fez-me entender que sempre fui amada, sinto este amor forte e presente em mim. Entendi que o amor sempre será o caminho para curar nossas dores, principalmente, as dores da criança que se sente ferida. Exercício da compaixão. Ao reconhecer no meu tio, os gestos de meu pai, compreendi que provavelmente tiveram de seus pais a mesma linguagem para expressar o amor. Todos nós somos ávidos por dar e receber o amor. Que o amor sempre nos toque, derrubando as muralhas das incompreensões com muito amor, compaixão, respeito às histórias vividas e, sobretudo, dando-nos força para seguir agradecendo pela vida, pois ainda a tempo de reescrever uma nova história.
Com amor, uma prima, uma sobrinha e uma filha.