Muros e brechas - Ne2
Uma lamentável descrição feita por um dos irmãos de Neemias mostra o estado mais íntimo daquela Jerusalém que um dia tinha brilhado sob os governos de Davi e seu filho Salomão em seu ápice.
“Os restantes, que ficaram do cativeiro, lá na província estão em grande miséria e desprezo; e o muro de Jerusalém fendido e as suas portas queimadas a fogo” (Ne 1.3).
Contrastando com esta imagem de ruína e miséria, temos alguns textos que indicam a grandeza e prosperidade da fortaleza de Susã, espécie de capital de inverno do Império Persa de onde partiu nosso personagem principal, Neemias. Utilizaremos o relato no livro de Ester ainda por analisar.
“Naqueles dias, assentando-se o rei Assuero no trono do seu reino, que estava na fortaleza de Susã, no terceiro ano do seu reinado, fez um banquete a todos os seus príncipes e seus servos, estando assim perante ele o poder da Pérsia e Média e os nobres e príncipes das províncias, para mostrar as riquezas da glória do seu reino, e o esplendor da sua excelente grandeza, por muitos dias, a saber: cento e oitenta dias” (Et 1:2-4).
E se não bastasse o banquete longo e bem regado aos maiorais, também foram convidados outros cidadãos menores – porém em momento diferenciado.
“E, acabados aqueles dias, fez o rei um banquete a todo o povo que se achava na fortaleza de Susã, desde o maior até ao menor, por sete dias, no pátio do jardim do palácio real. As tapeçarias eram de pano branco, verde, e azul celeste, pendentes de cordões de linho fino e púrpura, e argolas de prata, e colunas de mármore; os leitos de ouro e de prata, sobre um pavimento de mármore vermelho, e azul, e branco, e preto. E dava-se de beber em copos de ouro, e os copos eram diferentes uns dos outros; e havia muito vinho real, segundo a generosidade do rei” (Et 1:5-7).
Mas o que Neemias viu em Jerusalém com seus próprios olhos destoava de todo aquele glamour.
“E de noite saí pela porta do vale, e para o lado da fonte do dragão, e para a porta do monturo, e contemplei os muros de Jerusalém, que estavam fendidos, e as suas portas, que tinham sido consumidas pelo fogo. E passei à porta da fonte, e ao tanque do rei; e não havia lugar por onde pudesse passar o animal em que estava montado” (Ne 2:13-14).
Salomão, iluminado pelo Espírito, já havia entendido que há momentos distintos de atuação tanto da parte do homem quanto da parte de Deus.
“Tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu... tempo de chorar, e tempo de rir; tempo de prantear, e tempo de dançar; tempo de espalhar pedras, e tempo de ajuntar pedras; tempo de abraçar, e tempo de afastar-se de abraçar” (Ec 3.1-5).
O tempo de ruir havia passado sob o Império Babilônico, devido aos graves pecados de Israel – o tempo de reconstruir havia chegado graças às ternas misericórdias de Deus, começando por Ciro como já vimos.
“E será que, como velei sobre eles, para arrancar, e para derrubar, e para transtornar, e para destruir, e para afligir, assim velarei sobre eles, para edificar e para plantar, diz o Senhor” (Jr 31.28).
Transportando o símbolo para o futuro certo e breve, o mundo também será abalado pelos seus muitos delitos e pecados – enquanto Israel será restabelecida a uma glória jamais experimentada por qualquer nação de qualquer tempo. A história será revisada, porém sob perspectiva diferente.
Assim como a grande Pérsia se tem transformado até hoje em sítio arqueológico, seus escombros escondidos pela areia do tempo, também as grandes metrópoles deste mundo jazerão cobertas do pó e do desprezo eternos.
“De todo cambaleará a terra como o ébrio, e será movida e removida como a choça de noite; e a sua transgressão se agravará sobre ela, e cairá, e nunca mais se levantará. E será que naquele dia o Senhor castigará os exércitos do alto nas alturas, e os reis da terra sobre a terra” (Is 24.20-21).
“Depois disto voltarei, e reedificarei o tabernáculo de Davi, que está caído, levantá-lo-ei das suas ruínas, e tornarei a edificá-lo” (At 15.16).
“E assim todo o Israel será salvo, como está escrito: De Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” (Rm 11.26).
A seguir abriremos nossos ouvidos e corações à oração de Neemias.