Eliseu e o machado - 2Re7
Após o milagre da cura da lepra do siro Naamã, outro sinal muito intrigante acontece. Um machado – emprestado – ou viga em outras traduções, havia se afundado sob as águas e Eliseu o ergue com um pedaço de pau (2 Re 6). Penso que tenha muito a ver com o que Jesus se referiu a um certo machado de julgamento em sua primeira vinda.
“Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento, e não comeceis a dizer em vós mesmos: Temos Abraão por pai; porque eu vos digo que até destas pedras pode Deus suscitar filhos a Abraão. E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda a árvore, pois, que não dá bom fruto, corta-se e lança-se no fogo” (Lc 3.8-9).
Jesus “veio para o que era seu”, sua nação judaica, e foi brutalmente rejeitado pelos líderes do povo. Esta parábola garantia a eles que se não houvesse arrependimento genuíno, sua árvore seria cortada – e como foi! – e Deus buscaria seus frutos de outras nações que estavam “sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” como argumenta Paulo (Ef 2.12).
Seu ressurgir das águas mostra inevitavelmente sua ressurreição com vista agora aos gentios, “poder de Deus para todo aquele que crê, primeiro do judeu [que negou], e também do grego [oportunidade aberta ao gentio]” (Rm 1.16).
O empréstimo do machado leva ao raciocínio que deverá haver prestação de contas ao final, coisa que ficou bem clara nas parábolas de Jesus, o Messias rejeitado por eles.
“E dizia esta parábola: Um certo homem [o Pai] tinha uma figueira [governo] plantada na sua vinha [sacerdócio], e foi procurar nela fruto, não o achando; e disse ao vinhateiro [o Filho]: Eis que há três anos [tempo do ministério terreno do Filho que passou de três anos mas não chegou a quatro] venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho. Corta-a; por que ocupa ainda a terra inutilmente? E, respondendo ele [o Filho], disse-lhe: Senhor, deixa-a este ano, até que eu a escave e a esterque; e, se der fruto, ficará e, se não, depois a mandarás cortar” (Lc 13:6-9).
Como já vimos, a figueira foi ressecada simbolicamente após o terceiro ano do ministério de Jesus, pouco antes de sua morte na cruz, indicando o corte do tronco de governo de Israel. E Jesus complementa com a passagem da obrigação da produção dos frutos por outra gente, e isto dito pela boca dos próprios inimigos do Senhor.
“Mas os lavradores, vendo o filho [Jesus], disseram entre si: Este é o herdeiro; vinde, matemo-lo, e apoderemo-nos da sua herança. E, lançando mão dele, o arrastaram para fora da vinha, e o mataram. Quando, pois, vier o senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Dizem-lhe eles [seus próprios inquiridores]: Dará afrontosa morte aos maus, e arrendará a vinha a outros lavradores [passagem aos gentios], que a seu tempo lhe deem os frutos” (Mt 21:38-41).
Vemos assim como a simbologia do fracasso de Israel era constante na literatura dos profetas de Israel, e já indicava concomitantemente a passagem desta mordomia, ou exercício de testemunho e comunhão com Deus, a um povo que não pertencia à descendência de Abraão.
Por isto Paulo vai dizer a eles e a nós categoricamente.
“Assim como Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei, pois, que os que são da fé são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que são da fé são benditos com o crente Abraão” (Gl 3:6-9).
Israel preferiu a prisão da lei e não a liberdade da graça de Cristo. Por isto este mesmo texto continua.
“Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las. E é evidente que pela lei ninguém será justificado diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl 3.10-11).
O próximo milagre nesta mesma sequência também tem algo extremamente útil para nos ensinar em alegoria. Os inimigos siros fizeram pelo menos duas emboscadas ao rei de Israel, mas Eliseu era avisado antes pelo Senhor e o rei escapava. Então o inimigo, descobrindo que um profeta se entrepunha em seus planos, resolveu tirá-lo de ação.
A famosa passagem de “que o monte estava cheio de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu” (2 Re 6.17), e que seu servo não podia enxergar – simbolizando a dureza do coração do povo israelita – também mostra que um dia suas vendas serão tiradas como foram as do servo.
“E até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará” (2 Co 3.15-16).
Mas o que é digno de nota em toda esta lição histórica e espiritual, é o banquete servido aos inimigos de Israel quando seus olhos foram abertos em meio à cidade de Samaria.
“Então Eliseu lhes disse: Não é este o caminho, nem é esta a cidade; segui-me, e guiar-vos-ei ao homem que buscais. E os guiou a Samaria. E sucedeu que, chegando eles a Samaria, disse Eliseu: Ó Senhor, abre a estes os olhos para que vejam. O Senhor lhes abriu os olhos, para que vissem, e eis que estavam no meio de Samaria. E, quando o rei de Israel os viu, disse a Eliseu: Feri-los-ei, feri-los-ei, meu pai? Mas ele disse: Não os ferirás; feririas tu os que tomasses prisioneiros com a tua espada e com o teu arco? Põe-lhes diante pão e água, para que comam e bebam, e se vão para seu senhor. E apresentou-lhes um grande banquete, e comeram e beberam; e os despediu e foram para seu senhor; e não entraram mais tropas de sírios na terra de Israel” (6:19-23).
Como não lembrar das graciosas palavras de Davi antevendo o reino milenar de Cristo, onde ele mesmo será o sub-regente?
“Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos...” (Sl 23.5). E também...
“E o Senhor dos Exércitos dará neste monte a todos os povos uma festa com animais gordos, uma festa de vinhos velhos, com tutanos gordos, e com vinhos velhos, bem purificados. E destruirá neste monte a face da cobertura, com que todos os povos andam cobertos, e o véu com que todas as nações se cobrem. Aniquilará a morte para sempre, e assim enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará o opróbrio do seu povo de toda a terra; porque o SENHOR o disse” (Is 25.6-8).
Quão maravilhosa é tua Palavra, ó Senhor, perfeita em todos os mínimos detalhes.
Busque a face deste Senhor misericordioso, na face de Jesus Cristo, pois sua volta é iminente, a curtíssimo prazo, para dar a cada um segundo as suas obras.
Obrigado por ter me acompanhado nestas pequenas notas e espero que me encontre novamente na análise do livro de Crônicas a seguir.
A paz de Jesus seja com todos os que buscam e aguardam sua iminente e silenciosa Vinda!