Um profeta velho e um homem de Deus - 1Re5
Como vimos em nota anterior, Jeroboão foi o grande inventor de males que condenaram a nova nação ao norte, Israel. Não poderia deixar de haver um profeta da parte do Senhor que não condenasse o grave pecado. Vamos apenas comentar o aspecto tipológico em suas quatro fases principais.
E eis que, por ordem do SENHOR, veio, de Judá a Betel, um homem de Deus; e Jeroboão estava junto ao altar [não o do Senhor], para queimar incenso. E ele clamou contra o altar por ordem do Senhor... Sucedeu, pois, que, ouvindo o rei a palavra do homem de Deus, que clamara contra o altar de Betel, Jeroboão estendeu a sua mão de sobre o altar, dizendo: Pegai-o! Mas a sua mão, que estendera contra ele, se secou, e não podia tornar a trazê-la a si... Então o homem de Deus suplicou ao Senhor, e a mão do rei se lhe restituiu, e ficou como dantes. E o rei disse ao homem de Deus: Vem comigo para casa, e conforta-te; e dar-te-ei um presente. Porém o homem de Deus disse ao rei: Ainda que me desses metade da tua casa, não iria contigo, nem comeria pão nem beberia água neste lugar. Porque assim me ordenou o Senhor pela sua palavra, dizendo: Não comerás pão nem beberás água; e não voltarás pelo caminho por onde vieste. Assim foi por outro caminho; e não voltou pelo caminho, por onde viera a Betel” (1 Re 13.1-10).
Um dia também Jesus saiu de Judá e veio para a casa que deveria ser de Deus (Betel).
“Visto ser manifesto que nosso Senhor procedeu de Judá, e concernente a essa tribo nunca Moisés falou de sacerdócio” (Hb 7.14).
“E disse aos que vendiam pombos: Tirai daqui estes, e não façais da casa de meu Pai casa de venda” (Jo 2.16).
A recusa, tanto da parte de Jeroboão, quanto dos sacerdotes e escribas pela pregação de Jesus, renderam um castigo de ressecamento – a mão governamental daquele rei e simbolicamente o ressecamento da figueira de Israel (símbolo por excelência do ministério de governo).
“E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões... E, deixando-os, saiu da cidade para Betânia, e ali passou a noite.
E, de manhã, voltando para a cidade, teve fome; e, avistando uma figueira perto do caminho, dirigiu-se a ela, e não achou nela senão folhas. E disse-lhe: Nunca mais nasça fruto de ti! E a figueira secou imediatamente” (Mt 21.13-19).
E assim como o homem de Deus não podia comer pão nem água naquele lugar, pois não poderia haver comunhão do santo com o profano, também Jesus, representado por seus discípulos em sua parábola do reino, não teriam como comer pão e água pela dureza de coração do seu povo.
“Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber” (Mt 25.42).
E por último, o homem de Deus não poderia voltar pelo mesmo caminho ao seu lugar de habitação original. Também o Filho não voltou pelo mesmo caminho, pois sua verdadeira casa não passava por este mundo, mas para a casa do Pai pela ressurreição gloriosa de um novo corpo.
“E dizia-lhes [aos seus discípulos]: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo” (Jo 8.23).
“... ainda que também tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos deste modo” (2 Co 5.16).
“Semeia-se em ignomínia, ressuscitará em glória. Semeia-se em fraqueza, ressuscitará com vigor” (1 Co 15.43).
Acho que falamos o bastante sobre os dois homens de Deus, o humano e o divino. Falemos agora sobre o profeta velho e seu tropeço. Recomeçam as ‘coincidências’.
“E morava em Betel um velho profeta; e vieram seus filhos, e contaram-lhe tudo o que o homem de Deus fizera aquele dia em Betel, e as palavras que dissera ao rei; e as contaram a seu pai” (1 Re 13.11).
Também os filhos dos escribas e fariseus levavam notícias constantes dos testemunhos de Jesus aos sacerdotes, e assim como tentaram levantar tropeços sobre Jesus, também este velhaco levantou um grave tropeço para o homem de Deus, mentindo descaradamente no nome do Senhor.
“Então lhe disse: Vem comigo à casa, e come pão. Porém ele disse: Não posso voltar contigo, nem entrarei contigo; nem tampouco comerei pão, nem beberei contigo água neste lugar... E ele lhe disse: Também eu sou profeta como tu, e um anjo me falou por ordem do Senhor, dizendo: Faze-o voltar contigo à tua casa, para que coma pão e beba água (porém mentiu-lhe). Assim voltou com ele, e comeu pão em sua casa e bebeu água” (13.15-19).
Eu não tenho dúvida que este profeta velho trata daqueles que querem impor a Lei de Moisés sobre a graça de Deus em Cristo. Muitos cristãos, participando das novas da salvação perfeita em Cristo pela graça e a suficiência do Espírito nas suas vidas, também são seduzidos por uma lei que não pode jamais salvar. O apóstolo Paulo é especialista neste assunto.
“Eu, porém, irmãos, se prego ainda a circuncisão, por que sou, pois, perseguido? Logo o escândalo da cruz está aniquilado. Eu quereria que fossem cortados aqueles que vos andam inquietando. Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade [da cruz de Cristo]. Não useis então da liberdade para dar ocasião à carne, mas servi-vos uns aos outros pelo amor... Digo, porém: Andai em Espírito, e não cumprireis a concupiscência da carne... Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei” (Gl 5.11-18).
Não obstante, quem morre devorado pelo leão não é o profeta velho, pois como está escrito – “E assim a lei é santa, e o mandamento santo, justo e bom” (Rm 7.12).
Não podemos voltar para a Lei da mesma forma que o homem de Deus não podia voltar pelo caminho de onde saiu. E assim como o leão o devorou no caminho, também devemos temer que o Leão em sua figura de julgamento nos condene se decairmos da graça.
“Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão... Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído. Porque nós pelo Espírito da fé aguardamos a esperança da justiça” (Gl 5.1-5).
Isto lembra o julgamento das obras do cristão no dia de Cristo.
“A obra de cada um se manifestará; na verdade o dia a declarará, porque pelo fogo será descoberta; e o fogo provará qual seja a obra de cada um. Se a obra que alguém edificou nessa parte permanecer, esse receberá galardão. Se a obra de alguém se queimar, sofrerá detrimento [como no caso do homem de Deus]; mas o tal será salvo, todavia como pelo fogo” (1 Co 3.13-15).
“Temamos, pois, que, porventura, deixada a promessa de entrar no seu repouso, pareça que algum de vós fica para trás” (Hb 4.1).
Apeguemo-nos à fé em Cristo que é pela graça, não acrescentando nada que possa diluir a graça pela mistura de obras mortas, que são pela lei. Mas vivamos em novidade de vida seguindo a atuação e capacitação do Espírito Santo pela mesma fé, graça e luta diária contra a carne, o mundo e o diabo, que vai muito além das negativas da Lei.
Em nosso próximo encontro examinaremos as obras de Acabe.