Ana – sofrimento, clamor e recompensa - 1Sm2

O livro de Samuel começa com o sofrimento de uma mulher na esperança de um filho. Representa bem o sofrimento que Israel já passou e ainda passará novamente na esperança do Messias. É certo que Ele já veio e foi desprezado por seu povo. Terá então que amargar profundas dores até Seu bendito retorno.

“Porque eu vos digo que desde agora me não vereis mais, até que digais: Bendito o que vem em nome do Senhor” (Mt 23.39).

Ano após ano, Ana subia para adorar ao Senhor, fazer o sacrifício anual de sua família dirigido por seu piedoso marido, Elcana.

E em sua maior angústia, entre lágrimas e desespero, um sacerdote – Eli – não consegue entender sua dor e confunde com bebedeira. Veremos mais adiante que este sacerdote cumpria sua função e nada mais, estando longe de tudo que seu sacerdócio exigia.

Ela não diz propriamente pelo que orava, e parece que também não importou muito ao sacerdote sabê-lo. Para ela, somente o ‘SENHOR dos Exércitos’ poderia sarar seu corpo e seu coração. Ela não correu a buscar bênçãos e imposição de mãos de homens desconhecidos, ofertar e dizimar materiais palpáveis que a Deus não interessam. Ela ofertou seu próprio pedido!

“Ela, pois, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente. E fez um voto, dizendo: Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva não te esqueceres, mas à tua serva deres um filho homem, ao Senhor o darei todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1.10-11).

Ela não queria um simples menino, queria um homem de Deus à altura das necessidades espirituais de Israel que cambaleava, como já frisamos outras vezes, cambaleava entre deuses estranhos e vontade própria.

E aqui temos algo precioso quanto à eleição ou predestinação. Samuel teve seu destino sagrado designado por sua mãe antes mesmo de nascer, não havia lugar para reclamação, fuga ou barganha. Assim foi, porque assim a ela agradou! Jesus será o antítipo perfeito desta escolha antecipada. Nada nem ninguém poderia alterar este amor predestinador.

Mas passando à felicidade de Ana pela sua oração atendida, uma oração de agradecimento e engrandecimento será preservada nestas páginas inspiradas. E algo típico dos caminhos de Deus revelado nas entrelinhas.

“Os fartos se alugaram por pão, e cessaram os famintos; até a estéril deu à luz sete filhos, e a que tinha muitos filhos enfraqueceu” (2.5).

É gracioso da parte de Deus dar além daquilo que pedimos ou pensamos. Além de Samuel, outros filhos nascerão desta que era estéril.

“Visitou, pois, o Senhor a Ana, que concebeu, e deu à luz três filhos e duas filhas; e o jovem Samuel crescia diante do Senhor” (2.21).

Fisicamente, ela teve seis filhos, mas em sua oração ela menciona sete. Um não seria deste mundo.

Samuel, o filho da oração entregue para servir à casa de Deus, é tipo mais que perfeito do Filho encarnado. Quando dedicarmos uma nota a ele, veremos que ele acumulou as funções de juiz, sacerdote e profeta, ou seja, cumpriu os ofícios de Governo, Sacerdócio e Profecia. O próprio significado de seu nome fala profundamente desta conexão entre os dois – "Deus Ouve" ou "Nome de Deus".

Mas o que não deixa dúvida é o contexto imediato da oração profética de Ana.

“O Senhor é o que tira a vida e a dá; faz descer à sepultura e faz tornar a subir dela” (2.6).

Seria normal do ponto de vista humana, dizer que o Senhor dá a vida e a retira. Mas no seu caso é o inverso. Pois ela adianta muito à frente que um Filho também morreria e tornaria a subir da sepultura. Pois como veremos ainda, o sacerdócio mais legítimo, enobrecedor e divino é dar a vida e não tirar. Samuel também morreu para o mundo no momento em que foi entregue aos serviços daquele sacerdote Eli na casa de Deus, por isto seu nome será engrandecido entre seu povo. O Filho também viveu sob as mesmas diretrizes e peso.

E assim como Samuel cumpriu os três ministérios divinos que comentamos logo acima, também o Filho cumpriria estes serviços numa escala jamais alcançada por qualquer mortal.

Talvez Ana nada disso compreendesse, mas suas palavras retratavam algo muito além de um simples filho mortal, passava para os tempos distantes de um profeta que abalaria não só seu povo, mas o mundo inteiro.

E se você quiser comparar sua oração com a de Maria, mãe de Jesus, verá muitos traços similares que corroboram o que propusemos nesta nota.

Em nosso próximo encontro, falaremos de Eli e seus vergonhosos filhos.