Rute e os gentios - Rt4

Pincelamos em nota anterior que, se os moabitas não eram inimigos de Israel, também não eram amigos. Foi ordenado a Israel a respeito deles que não procurassem “nem paz nem bem em todos os teus dias para sempre” (Dt 23.6).

No entanto Boaz se compadeceu daquela pobre mulher, chegando a declarar:

“Bem se me contou quanto fizeste à tua sogra, depois da morte de teu marido; e deixaste a teu pai e a tua mãe, e a terra onde nasceste, e vieste para um povo que antes não conheceste. O Senhor retribua o teu feito; e te seja concedido pleno galardão da parte do Senhor Deus de Israel, sob cujas asas te vieste abrigar” (2.11-12).

Vimos que Noemi e seu marido peregrinavam desterrados pela fome em terra estranha. Seus filhos se misturaram com aquelas moabitas que não eram para eles.

Creio que esta tipologia nos ensine sobre a posição dos gentios, durante o período de exercício de Israel. A lei tinha sido dada a eles, e os gentios estavam afastados de toda esta realidade, como bem declara Paulo.

“Que naquele tempo estáveis [vós gentios] sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Ef 2.12).

Mas como “para com Deus, não há acepção de pessoas” (Rm 2.11), havia sempre a esperança, ditada pela própria lei de Moisés, de acolhimento do estrangeiro.

“Como um natural entre vós será o estrangeiro que peregrina convosco; amá-lo-ás como a ti mesmo, pois estrangeiros fostes na terra do Egito. Eu sou o Senhor vosso Deus” (Lv 19.34).

Lembre-se de que a própria Rute decidiu pelo povo de Israel e pelo seu Deus.

Era um tipo da misericórdia estendida aos gentios, tanto no exercício da lei em Moisés quanto na graça em Jesus. Assim como Israel, representado pela família de Elimeleque, peregrinava em terra estrangeira, Israel também agora [embora indevidamente em sua terra] vive distante de seu Deus, e a oportunidade de salvação é estendida aos gentios.

“Para que a bênção de Abraão [relacionada somente a Israel pela Lei] chegasse aos gentios por Jesus Cristo, e para que pela fé nós [gentios] recebamos a promessa do Espírito” (Gl 3.14).

Havia esperança para um estrangeiro que quisesse peregrinar e crer no Deus de Israel, assim como há esperança hoje para os gentios de participarem de tantas promessas dadas unicamente àquele povo, “a saber, que os gentios são coerdeiros [herdeiros juntamente com Israel debaixo deste período da graça sem as obras da lei], e de um mesmo corpo, e participantes da promessa em Cristo pelo evangelho” (Ef 3.6).

“Mas agora em Cristo Jesus, vós [gentios], que antes estáveis longe, já pelo sangue de Cristo chegastes perto” (Ef 2.13).

É desta extensão graciosa que Rute ensina, mas que só pode ser validada pela obra de remissão de um homem – Boaz.

É dele que falaremos em nosso próximo encontro.