Rute e Orfa – destinos distintos - Rt3

Estas duas mulheres se ligaram aos dois filhos de Noemi quando estes “chegaram aos campos de Moabe, e ficaram ali” (1.2). As duas mulheres eram moabitas.

Moabe e seu irmão Amom eram filhos de Ló (sobrinho de Abraão) por um ato sexual ilícito com suas duas filhas depois do julgamento de Sodoma e Gomorra. Não eram um povo inimigo de Israel, já que tinham certa parentela, mas tinham uma triste sentença sobre eles.

“Nenhum amonita nem moabita entrará na congregação do Senhor; nem ainda a sua décima geração entrará na congregação do Senhor eternamente... Não lhes procurarás nem paz nem bem em todos os teus dias para sempre” (Dt 23.3,6).

Mesmo assim, eles se casam com elas porque Deus tem certos planos que não conseguimos compreender.

“E morreram também ambos, Malom e Quiliom, ficando assim a mulher desamparada dos seus dois filhos e de seu marido. Então se levantou ela com as suas noras, e voltou dos campos de Moabe, porquanto na terra de Moabe ouviu que o Senhor tinha visitado o seu povo, dando-lhe pão” (1.5-6).

Dez anos se refugiaram por aquela terra estrangeira, como diz o texto sagrado. Fugiram por causa da fome, e voltaram porque certamente um juiz havia libertado o povo e o Senhor tornou a abençoá-los.

Então entra em cena a escolha direcionada pelo amor.

“Então levantaram a sua voz, e tornaram a chorar; e Orfa beijou a sua sogra, porém Rute se apegou a ela” (1.14).

Podemos chorar e beijar, mas poucos estão dispostos a abandonar sua comodidade para servir alguém que nada tem a oferecer materialmente. Orfa se foi, preferiu a comodidade, o certo, o costume. Rute se apegou ao destino daquela pobre mulher. Ouçamos suas palavras, ainda valem para hoje.

“Disse, porém, Rute: Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus; onde quer que morreres morrerei eu, e ali serei sepultada. Faça-me assim o Senhor, e outro tanto, se outra coisa que não seja a morte me separar de ti” (1.16-17).

Uma pecadora estrangeira se dispôs a se juntar eternamente ao destino de uma pobre mulher que nada tinha a oferecer.

Invertendo a figura, Deus se junta eternamente a pecadores que nada podem oferecer. Ele, no entanto, tem algo de supremo valor a oferecer – perdão e vida eterna. E fico profundamente irritado quando alguém levanta a suspeita de que um cristão verdadeiro, que se juntou a Cristo pela fé em Sua obra salvadora, pode perder sua salvação.

Esta fala não é de Deus. É daquele que odeia nossas almas. Não é de alguém que amou o mundo de tal maneira... Que se despiu da divindade, vestiu-se da fraqueza humana e morreu por aqueles que não valem nada. Sua salvação é eterna, como seu caráter é perfeito e eterno. É um Deus imutável em suas decisões. É um Deus justo e fiel que não quebra sua promessa. Uma vez salvos, salvos para sempre, SIM!

Rute jurou fidelidade, quanto mais o Eterno!

Orfa não saberá nada destas coisas, ainda que chore ou beije sua sogra. Estas coisas só podem ser aquilatadas por aqueles que estiverem próximos na vida e na morte, no muito ou no pouco. Como bem escreveu Paulo.

“Sei estar abatido, e sei também ter abundância; em toda a maneira, e em todas as coisas estou instruído, tanto a ter fartura, como a ter fome; tanto a ter abundância, como a padecer necessidade. Posso todas as coisas em Cristo que me fortalece” Fp 4.12-13).

Rute terá um destino certo e gracioso, Orfa retornará ao seu destino comum e mortal.

Em nossas relações com Deus, com nosso cônjuge, com nossos irmãos da carne e do corpo de Cristo, a quem temos nos assemelhado mais? Às meras lágrimas de Orfa ou à decisão imutável de Rute?

Possamos nós também tomar decisões que não envolvam só o material, mas que busque o bem daqueles que nos cercam e atenda aos conselhos inabaláveis de nosso Deus.

A seguir acompanharemos Rute e o destino dos gentios.