Jordão, Circuncisão e Páscoa - Js4

A abertura do Mar Vermelho é certamente o milagre mais conhecido e difundido entre os tantos milagres do Antigo Testamento. Mas também o rio Jordão teve que ser aberto para que o povo passasse. E quero agora propor uma simbologia para estes dois fatos históricos.

Não há como duvidar que a abertura do Mar Vermelho é simbolicamente compatível com a libertação da escravidão de um povo físico no passado, e por extensão a nós neste período da Igreja de Cristo, com a libertação das garras de Satanás.

Israel saiu redimido pelo sangue da Páscoa, como vimos em nota apropriada, mas a passagem pelo Mar representa a libertação das garras do tirano que os escravizava. O mar na Escritura representa bem as muitas nações revoltas e indecorosas (não à toa o símbolo se associa a uma prostituta em Ap 17.15), e assim como eles foram libertos da escravidão do Egito, nós – em Cristo – somos libertados da escravidão espiritual do mundo.

E aqui entra o outro aspecto da libertação. Não basta libertar do mal (aspecto negativo) e não haver entrada no bem (aspecto positivo). Vejamos uma passagem muito elucidativa.

“O qual nos tirou da potestade das trevas, e nos transportou para o reino do Filho do seu amor; em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (Cl 1.13-14).

Eles e nós fomos redimidos por sangue, tirados das trevas e colocados debaixo do poder transformador da luz. Se o Mar Vermelho fala da libertação do velho mundo condenado, o Rio Jordão, por sua vez, fala do serviço, uma separação completa deste sistema (Egito e mundo) para uma permanência fiel e adequada em Seu reino para proclamar as virtudes do Senhor.

Mas estas duas simbologias são vividas e experimentadas por fé. É algo mais divino que humano.

O terceiro símbolo que vamos tratar, por sua vez, é mais humano que divino.

“E sucedeu que, ouvindo todos os reis dos amorreus... que o SENHOR tinha secado as águas do Jordão... Naquele tempo disse o Senhor a Josué: Faze facas de pedra, e torna a circuncidar segunda vez aos filhos de Israel... E foi esta a causa por que Josué os circuncidou: todo o povo que tinha saído do Egito, os homens, todos os homens de guerra, já haviam morrido no deserto, pelo caminho, depois que saíram do Egito.

Porque todos os do povo que saíram estavam circuncidados, mas a nenhum dos que nasceram no deserto, pelo caminho, depois de terem saído do Egito, haviam circuncidado” (5.1-5).

Mal o povo tinha atravessado o Jordão, Josué é direcionado a circuncidar os homens que tinham nascido no deserto. Seus pais foram circuncidados, mas não puderam entrar em Canaã por rebeldia. Esta geração entrou em Canaã e então foi circuncidada. Esta geração não temeu como aqueles.

A circuncisão, segundo Paulo vai explicar, era muito mais que a rejeição da escravidão da carne, ou a parte negativa da libertação, mas também poder que nos reveste para uma vida santificada para Deus.

“No qual também estais circuncidados com a circuncisão, não feita por mão [física para Israel] no despojo do corpo dos pecados da carne, mas pela circuncisão de Cristo [espiritual para a Igreja]; sepultados com ele no batismo, nele também ressuscitastes pela fé no poder de Deus, que o ressuscitou dentre os mortos” (Cl 2.11-12).

É óbvio que Israel praticamente nada entendia destas coisas, pois elas eram sombra que viriam a ser luz em Cristo.

A circuncisão então fala de consagração, da auto entrega à vontade soberana de Deus, não só rejeitar as obras das trevas, mas abraçar os desígnios santos do Senhor. É estar pronto pro que der e vier!

E a resposta de Deus será maravilhosa!

“Disse mais o Senhor a Josué: Hoje retirei de sobre vós o opróbrio do Egito” (5.9).

Aquele povo que peregrinou no deserto, como dissemos em outra nota, sem perspectiva e utilidade, carregou sua vergonha por 40 anos e morreram nela. Mas este que se consagrou, que aceitou o desafio de uma nova vida diante de Deus, que não quer só se salvar, mas fazer a vontade do seu Deus, está apto para enfrentar todos os seus inimigos, porque se consagrou e Deus assim o aceitou.

Interessante também notar que, apesar desta geração ter sido circuncidada pela primeira vez, o Senhor conta como ‘segunda vez aos filhos de Israel’, pois Deus vê somente uma nação, assim como Deus só vê uma Igreja.

E assim circuncidados, vão comemorar sua primeira Páscoa em solo prometido.

“Estando, pois, os filhos de Israel acampados em Gilgal, celebraram a páscoa no dia catorze do mês, à tarde, nas campinas de Jericó” (5.10).

Aqueles saíram do Egito por causa da Páscoa [a original], estes entraram em Canaã para a Páscoa [memorial] com fundamento na original.

Tudo dependia da primeira Páscoa, onde um cordeiro tinha sido morto para cada família, e por extensão, para cada família de Israel em todos os tempos, pois “de Sião virá o Libertador, e desviará de Jacó as impiedades” em tempo não muito distante.

Volta, ó Senhor!