Uma arca provisória para as novas tábuas da Lei - Dt4
Sempre que lemos um relato em algum ponto da Escritura, não significa que tudo que poderíamos aprender dele esteja ali. O que está escrito ali é importante naquele ponto. Talvez outra narrativa acrescente algo que torne o assunto mais apurado, preciso.
A lei dentro da arca exemplifica o que falamos. Êxodo não diz tudo o que Deuteronômio fala. Este livro complementa a fala do outro. Mais uma boa razão para entendermos que este quinto livro de Moisés seja muito mais que mera repetição, mas uma retrospectiva necessária com novos detalhes que se tornam importantes neste ponto.
Não vamos fazer uma comparação dos textos, vamos apenas comentar o princípio envolvido.
Após as primeiras tábuas da lei serem quebradas, as novas são lavradas e depositadas cuidadosamente.
“Naquele mesmo tempo me disse o SENHOR: Alisa duas tábuas de pedra, como as primeiras, e sobe a mim ao monte, e faze-te uma arca de madeira; e naquelas tábuas escreverei as palavras que estavam nas primeiras tábuas, que quebraste, e as porás na arca...
E virei-me, e desci do monte, e pus as tábuas na arca que fizera; e ali estão, como o Senhor me ordenou.” (10.1-2,5).
Nada se comenta em Êxodo sobre esta arca que servia para depósito da lei. Era uma arca provisória, pois as tábuas seriam guardadas em definitivo na arca do Senhor. Ou seja, as tábuas ficaram provisoriamente guardadas nesta arca feita por Moisés e somente depois de construída a arca do Senhor, ou do Testemunho, seriam depositadas em definitivo ali, como comenta Ex 40.20.
“Tomou o testemunho, e pô-lo na arca, e colocou os varais na arca; e pôs o propiciatório em cima da arca”.
É interessante notarmos que 3 memoriais se encontravam na arca do Senhor, e nenhuma delas trazia um bom testemunho de Israel.
Havia duas tábuas novas da lei, pois as velhas haviam sido quebradas por rebeldia do povo. Havia um pote com maná que lembrava que Israel também tinha desprezado o pão do céu, como já vimos. E havia a vara de Arão que exclamava também a rebeldia do povo quanto ao sacerdócio araônico.
As três esferas ministeriais foram maculadas por Israel – o governo de Deus pelas tábuas da lei quebradas; a profecia divina pelo maná desprezado; o sacerdócio divino pela vara florescida.
Realmente, o testemunho ali depositado não era nada bom. Mas o que intriga era a necessidade de uma arca provisória para as novas tábuas da lei. Até o momento tenho a seguinte visão.
Aquela arca provisória era Jesus em carne. Simbolizava o homem que viria peregrinar por Israel buscando arrependimento de seu povo, enaltecendo a lei e a Deus. Ele mesmo deixou bem claro.
“Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim anular, mas cumprir” (Mt 5.17).
Mas o que eu quero fazer meu leitor e leitora entenderem, é que as primeiras tábuas nada falavam da necessidade de uma arca para guardar aquele valioso documento escrito. Pois a lei pura, sem algo que a confine, só pode ser quebrada ao final. Pecadores arruinados não podem cumprir nenhum aspecto da lei por toda uma vida. Logo, esta lei é totalmente condenatória.
Mas as segundas tábuas guardadas em Jesus, além de preservar seu testemunho que é santo, liberta-nos de seu cumprimento para nossa salvação. Jesus cumpriu toda a lei, para que a fé, tão somente a fé nEle, pudesse nos salvar, porque Ele cumpriu a lei que nós não podemos cumprir.
Era isto o que dizia aquela lei guardada ou escondida na arca provisória. De um lado, a lei não podia ser anulada, pois estava devidamente guardada. E de outro, mostrava a misericórdia de Deus escondendo-a dentro do Filho de Deus, para não consumir a eles e nem a nós.
As primeiras tábuas nuas falam da condenação de pecadores, pois não podem ser cumpridas por quem quer que seja da descendência de Adão. As segundas mostram que um dia elas seriam guardadas no único local tangível e digno – no corpo do Messias de Israel, o cabeça da Igreja.
“Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações pelo pecado não te agradaram” (HB 10.5-6).
Nele estavam não só a salvaguarda da lei, mas graciosa esperança para judeus e gentios.
Podemos arrematar o assunto com uma belíssima e resumida palavra de Paulo:
“Para demonstração da sua justiça neste tempo presente, para que ele seja justo e justificador daquele que tem fé em Jesus” (Rm 3.26).
Vamos ainda tocar neste assunto, se Deus o permitir, quando chegarmos em Reis, pois quando Salomão inaugura o templo do Senhor, dois testemunhos haviam sumido.
A seguir falaremos da escolha de Jerusalém, a cidade eterna do Deus eterno.