Dons e Ofertas - Lv2
Há uma diferença conceitual entre o que somos e o que apresentamos. Mas na essência dos conceitos, tudo o que apresentamos deriva daquilo que somos, como exemplificou nosso próprio Senhor.
“Porque da abundância do seu coração fala a boca (Lc 6.45).
Não poderia ser diferente com nosso bendito substituto. Se analisarmos com cuidado as diferenças entre os 3 primeiros sacrifícios de sangue de Levítico 1, e as ofertas de alimentos do 2º capítulo, perceberemos esta mesma beleza.
Já vimos que os sacrifícios e ofertas com cheiro agradável representam Cristo em oferta ao Pai, a base de toda resolução amorosa e salvadora em Deus. Não representa de forma alguma o pagamento de nossos pecados, que naturalmente não poderiam ser agradáveis.
Ambas as ofertas destes 2 capítulos são de cheiro agradável, pois tudo é proveniente de Cristo. Emana dele ao Pai, único que pode apreciar perfeitamente as ofertas de Seu Filho.
Assim, as ofertas de sangue deste primeiro capítulo apontam para a oferta do corpo de Cristo em sua mais pura simplicidade e sublimidade, são Sua expressão humana neste mundo. É o que diz a Escritura:
“Porque é impossível que o sangue dos touros e dos bodes tire os pecados.
Por isso, entrando no mundo, diz: Sacrifício e oferta não quiseste, mas corpo me preparaste; holocaustos e oblações [ofertas] pelo pecado não te agradaram.
Então disse: Eis aqui venho (no princípio do livro está escrito de mim), para fazer, ó Deus, a tua vontade.
Como acima diz: Sacrifício e oferta, e holocaustos e oblações pelo pecado não quiseste, nem te agradaram (os quais se oferecem segundo a lei).
Então disse: Eis aqui venho, para fazer, ó Deus, a tua vontade. Tira o primeiro, para estabelecer o segundo (Hb 10.4-9).
Todos aqueles holocaustos de animais nunca agradaram a Deus, mas enquanto o primeiro sacerdócio, debaixo de Arão, não pudesse ser retirado, vigorariam como meio de perdoar os pecados daquele povo. Assim, o corpo santo do Filho preparado como oferta divina em Sua descida até nós, supre todas as necessidades divinas de reconciliação e humanas de salvação.
Mas Cristo não ofereceu somente seu corpo ao Pai em forma sacrificial – ofereceu também Seus dons, sua submissão santa em prol de um mundo que pouco se importava com Ele.
É o que falam as ofertas de manjares (ou alimentos) em suas várias divisões no segundo capítulo sob – a flor de farinha – e esta sempre acompanhada do azeite e do incenso. Nenhum traço de fermento poderia ser encontrado nesta oferta, pois, como dissemos, não representa o pecador, mas a oferta do Santo ao Pai.
“E a trará aos filhos de Arão, os sacerdotes, um dos quais tomará dela um punhado da flor de farinha, e do seu azeite com todo o seu incenso; e o sacerdote queimará como memorial sobre o altar; oferta queimada é, de cheiro suave ao Senhor” (2.2).
Desnecessário falarmos do azeite – a unção do Espírito – e do incenso – a intercessão conciliatória do Filho, estes dois ingredientes tão conhecidos do cristão. Mas faço questão de mencionar duas passagens sob este novo prisma.
“O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos digo são espírito e vida (Jo 6.63).
“E não rogo somente por estes, mas também por aqueles que pela tua palavra hão de crer em mim (Jo 17.20).
Tudo o que Ele era e tudo o que produziu em vida são as marcas mais sagradas da divindade perfeita e absoluta jamais vistas na humanidade. Cristo ofereceu-Se todo, sem reservas, sem engano, sem pecado, sem restrições pessoais. Ofereceu tudo o que era e tudo o que tinha. Não há Deus semelhante a Ele em qualquer aspecto que possamos analisar. Não há salvação maior, mais perfeita e eterna a ser proporcionada.
Não deveríamos, semelhantemente, darmos o valor condizente, atendermos humildemente a “uma tão grande salvação” (Hb 2.3)?
“Porque todo o sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; por isso era necessário que este [Jesus] também tivesse alguma coisa que oferecer (Hb 8.3).
Ele já Se ofereceu. A nós cabe aceitar, pela fé, o único sacrifício que atende todas as necessidades do pecador.
Logo veremos dois ingredientes diametralmente opostos em seu efeito espiritual – o mel e o sal.