Moisés – a mediação da Lei que enaltece - Ex4
Sob qualquer perspectiva humana que possamos analisar, o envolvimento com Deus é sempre progressivo, pelo simples fato de que o homem está preso ao tempo, é seu cárcere.
O Eterno já havia prometido a Abraão e sua semente, como já vimos, uma terra em possessão eterna. Então Ele acrescenta nova diretriz ao povo pelo terceiro mês da saída de Israel:
“Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha” (19.5).
Este povo, embora saído por graça e sangue, deve ser elevado ao padrão moral e espiritual do seu Deus, como falamos antes.
Assim, as primeiras tábuas da Lei são dadas (Êxodo 20 em diante) como artifício divino para prover pelo menos duas coisas:
1- ao mesmo tempo que dita regras para um convívio santo entre os próprios membros e entre seu Deus,
2- condena este povo que não pode andar dignamente pela simples observação da Lei.
Comentaremos o primeiro ponto. O segundo fica para a próxima nota.
Um povo saído de sua longa escravidão em terra estranha e contaminada tinha necessariamente de manter um relacionamento diferenciado com seu Deus. Não era um deus qualquer que não se importava com os caminhos de seu povo. Não era o deus desconhecido de nossos dias que pouco se importa com os destinos dos homens. Era um Deus único, vivo e diferenciado, que ainda ‘hoje’, sob novas circunstâncias, busca e forma uma ‘propriedade peculiar dentre todos os povos’. Quanto a eles, Deus fala por Moisés:
“E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo” (19.6).
Quanto a ‘um reino sacerdotal’ trataremos na 6ª Nota. Quero enfatizar a necessidade de ‘o povo santo’. Só para diferenciar, o Egito era em certa medida um reino sacerdotal, mas estava longe de ser o povo santo.
A Lei em si mesma, conforme Rm 7.12, “é santa, e o mandamento santo, justo e bom”.
Era a expressão moral e espiritual mais elevada de Deus para aquele momento e para aquele povo.
“E ser-me-eis homens santos” (22.31) – esta era a exigência inflexível digna daquele Deus santo que os libertara sob sangue.
Ele podia exigir zelo da forma mais elevada – “Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão” (20.7); quanto podia se preocupar com uma pobre moça virgem violada – “Se alguém enganar alguma virgem, que não for desposada, e se deitar com ela, certamente a dotará e tomará por sua mulher” (22.16).
Do ponto de vista de Israel, Moisés só poderia concluir:
“E o Senhor nos ordenou que cumpríssemos todos estes estatutos, que temêssemos ao Senhor nosso Deus, para o nosso perpétuo bem, para nos guardar em vida, como no dia de hoje” (Dt 6.24).
Se o sangue da Páscoa falava em redenção, a Lei falava em santificação. A nova posição do povo exigia uma nova conduta dele, “pois o nome do Senhor é Zeloso; é um Deus zeloso” (34.14).
Também para nós, sob a graça do Novo Testamento, Deus espera “coisas melhores, e coisas que acompanham a salvação” (Hb 6.9).
Não basta perdão, reconciliação, redenção. Ele deseja que sejamos ‘transformados pela renovação do entendimento, para que experimentemos qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus’ (Rm 12.2). A filiação cabe ao Pai. Nossa postura diante Dele cabe a nós.
Mas Israel pecou no momento exato em que as primeiras tábuas da Lei eram escritas pelo dedo divino. O que comentaremos na nota seguinte, sob o aspecto negativo da Lei.