Moisés – o chamado - Ex2
Moisés, o menino ‘tirado das águas’, significa muito mais que o ato em si mesmo. Simbolicamente, já que será incumbido de ser o mediador da Lei de Deus (Gl 3.19-20), fala de um povo que será tirado das leis limitadas de um mundo que jaz no maligno, e elevado ao padrão moral e espiritual de seu Deus Justo e Santo.
Para a figura da água basta a confirmação de Ap 17.15: “As águas que viste, onde se assenta a prostituta, são povos, e multidões, e nações, e línguas”. Esta figura se entremete em inúmeras porções da Escritura.
Israel, tirado das águas, não pertencerá mais ao mundo que adora o ‘Deus desconhecido’ retratado bem mais à frente pelo apóstolo Paulo, mas será “a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha” (19.5).
Moisés, criado ou malcriado no esplendor do Egito, terá de sair desta terra que cultua seu divino rio, para purificar-se em separação longa de 40 anos numa terra distante, Midiã.
Mas, no momento exato de sua chamada para libertar seu povo (cap. 3); diante de uma visão única de um espinheiro que queimava mas não consumia; diante da voz audível de seu Deus; diante da promessa de libertação que ele mesmo um dia desejou, neste momento ímpar de sua vida – titubeou, negou.
Era como se dissesse nas entrelinhas: – Agora?! Quando eu tinha alguma força política aos 40 anos, eu tive de sair fugido. E agora que sou um simples pastor, rebaixado aos olhos de todos os homens, o Senhor me convoca depois de 40 anos?! Agora quem não quer sou eu!
Não fazemos assim também em nossas vidas? Ora, o povo era de quem? O tempo era de quem? Quem prometera sua liberdade da escravidão cerca de 500 anos antes para Abraão?
Esta é a marca da humanidade. Quando tem que esperar age, como quando Moisés mata em nome de Deus (2.14), e quando é convocado recusa, pois nosso tempo é mais precioso que o de Deus. Nossas prerrogativas têm mais urgência que as Dele. Ora deixemos Deus escolher o tempo, a ocasião, o modo, a duração, pois ninguém melhor do que Ele pode saber o que é melhor para seu Reino e seus filhos! Se é que queremos fazer Sua Vontade...
Mas ele acaba indo. E para convencer o seu povo de que ele foi eleito para libertá-lo, está habilitado a fornecer 3 sinais: a serpente, a lepra e o sangue (cap. 4).
“A antiga serpente, que é o Diabo e Satanás” (Ap 20.2), todos conhecemos. O símbolo assinala mais que uma escravidão pelas mãos de Faraó, mas de algo que vai além. O Egito escraviza o corpo, Satanás escraviza a alma. A vara de Moisés, símbolo de autoridade governamental e medida de juízo, representativamente falando, insinua que o jugo começou como algo meramente humano, mas terminou na escravidão espiritual das almas. Pelas mãos de Moisés, o governo do diabo e seu filho Faraó tornariam às mãos de Deus, sinal de Moisés pegando a serpente pela cauda e retornando à simples vara.
A lepra, em toda escritura, não fala simplesmente do pecado, mas do pecado que se alastra, corrói, contamina. A mão direita de Moisés tornada em lepra mostra que Israel, debaixo da autoridade egípcia, se corrompera, se contaminara com seus usos e costumes. Mas o Senhor mesmo purificará esta nação, através da mão inflexível da justiça de Moisés.
No entanto, se estes dois símbolos ainda não os convencesse, havia o terceiro, e ninguém deve ter dúvidas de seu uso, embora a Escritura se cale a respeito. Todos conhecem ou deveriam conhecer o coração humano, este ‘pequeno inferno’, como disse alguém.
A água transformada em sangue, ao meu ver, fala do que vínhamos propondo nas notas anteriores. O Egito, visto pelo patriarca Jacó como alívio de seus sofrimentos e de sua família, passa da esperança para a opressão, da vida na companhia de Deus à morte ao lado de Faraó. A cômoda e refrescante água buscada em fonte que não o Senhor, transforma-se em sangue das chicotadas de seus exatores. Não seria justo que Deus desse a beber deste sangue como recompensa aos instrumentos da injustiça?! Podemos antever Apocalipse distante deste evento cerca de 3.500 anos.
“Visto como derramaram o sangue dos santos e dos profetas, também tu lhes deste o sangue a beber; porque disto são merecedores” (Ap 16.6).
Um juízo terrível se abaterá sobre toda a nação que soube se aproveitar dos ‘serviços’ de um povo que deveria ser livre.
E não estamos muitas vezes nós mesmos presos a estas condições – toda a escravidão proporcionada pelo mundo e o diabo, toda contaminação advinda do mundo e de nossas fraquezas morais e a distância que opera morte?
Bendito seja Deus! É nesta hora mais sombria que o Senhor se levanta!
Mas isto comentaremos a seguir analisando o segundo momento de Moisés, agora sob o gracioso peso da libertação!