Egito – fascíncio do mundo - Gn5
Todo enredo de história tem seus personagens marcantes; não poderia ser diferente com este livro inspirado por Deus, mas escrito por homem. O Egito atua neste papel marcando as vidas dos principais atores deste ato inicial. Três dos quatro maiores personagens desta trama escorregaram por esta cidade magnífica que ainda desperta curiosidade tantos séculos passados. Aproveito para recomendar a leitura de um livro antigo – ‘Deuses, Túmulos e Sábios’ de C. W. Ceram (você pode encontrar o livro físico na estante virtual - www.estantevirtual.com.br).
Nosso pai da fé, Abraão, esteve lá. Havia fome na terra de suas peregrinações. Recorreu ao Egito, mesmo sabendo que teria que mentir a respeito de sua ‘esposa-irmã’ (Gn 12).
Houve refrigério físico? Houve! – “E era Abrão muito rico em gado, em prata e em ouro” quando de lá saiu.
Houve a palavra do Senhor? Deus se cala!
Somente quando ele sai do Egito (e não sabemos quantos anos ele peregrinou por lá) e retorna “até ao lugar onde a princípio estivera a sua tenda” (Gn 13.3), Deus o visita novamente. Voltou ao lugar de onde nunca deveria ter saído, apesar das dificuldades que sua jornada prometia. As dificuldades em nossa jornada da fé não nos isentam de viver pela fé, ainda que nos custem algum sacrifício.
Mas devemos perdoá-lo, pois ainda não conhecia um princípio divino proclamado pelo antítipo* de seu filho que ainda não tinha nascido, Isaque, e que teria que sacrificar simbolicamente.
“Nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus” (Mt 4.4).
Se a boca humana esquecer a divina, talvez Deus se ‘esqueça’ por um momento da humana. Mas graças a Deus, em Cristo, ainda que fujamos das dificuldades, Deus contudo mantém estendida sua misericórdia e graça.
Isaque foi impedido de descer ao Egito – “Não desças ao Egito; habita na terra que eu te disser” (Gn 26.2), pois certamente já vinha em seu coração peregrinar por lá, tinha seu pai por exemplo. O Senhor se antecipou ao seu caminho. Mas mesmo indo aos filisteus por permissão do Senhor, sofrerá as consequências por se misturar com um povo que não é seu, em terra que não é sua. Aqueles que são chamados pelo Senhor devem caminhar diante do Senhor, sem olhar para a direita ou esquerda.
Jacó desceu ao Egito, mas paulatinamente. Primeiro mandou seu filhos negociarem ali, pois “eis que tenho ouvido que há mantimentos no Egito” (Gn 42.2).
Certo é que o Senhor queria descobrir toda a vergonha de seus irmãos que tinham vendido seu irmão caçula, José, e que viria a ser o “governador daquela terra”.
Vamos entrelaçar um pouco as histórias. José tornou-se grande, poderoso, com mulher e filhos dados por Faraó, bem distante de uma peregrinação familiar pelos caminhos de uma pobre Palestina. Pareceu-lhe melhor viver ali, distante dos caminhos destinados a Abraão, vivendo longe de sua família (difícil imaginar o sofrimento e angústia que este pobre rapaz sentiu ao ser vendido como escravo pelos seus próprios irmãos!). Mas o que nos interessa é que ficou ali, e em vez de sair e retornar aos caminhos da peregrinação, chama seu pai para lá.
“E fazei saber a meu pai [Jacó] toda a minha glória no Egito, e tudo o que tendes visto, e apressai-vos a fazer descer meu pai para cá’ (Gn 45.13).
Jacó, por sua vez, responde ansiosamente, esquecendo suas responsabilidades:
“Basta; ainda vive meu filho José; eu irei e o verei antes que morra” (45.28).
E o próprio Deus permitirá e incentivará sua descida ao Egito – “Não temas descer ao Egito, porque eu te farei ali uma grande nação. E descerei contigo ao Egito, e certamente te farei tornar a subir” (46.3-4).
Mas ali ensinará ao povo que crescerá fora de sua terra, que uma terra estranha, ainda que gloriosa e farta, não pode acrescentar nada à vida espiritual deles, não pode nos elevar à altura dos desígnios de Deus, mas somente rebaixar.
Do Egito, e por analogia, deste mundo, Deus só pode proclamar:
“Ai dos filhos rebeldes, diz o SENHOR, que tomam conselho, mas não de mim; e que se cobrem, com uma cobertura, mas não do meu espírito, para acrescentarem pecado sobre pecado; que descem ao Egito, sem pedirem o meu conselho; para se fortificarem com a força de Faraó, e para confiarem na sombra do Egito.
Porque a força de Faraó se vos tornará em vergonha, e a confiança na sombra do Egito em confusão” (Is 30.1-3).
O mundo e suas delícias, um dia serão condenados a sombra e vestígio.
Cabe ao cristão escolher se dará suas maiores energias ao que virará pó, ou ao que permanece para sempre!
Mudaremos o foco a seguir, passando do glorioso Egito para a obscura Palestina.
*Um tipo é uma figura simbólica que serve de modelo para ilustrar um fato que se cumprirá a frente. Seu antítipo é a realização da figura. Isaque é tipo de Jesus, Jesus é antítipo de Isaque.