Encontros - Gn3
Todos temos uma passagem bíblica predileta. Minha esposa segura lágrimas quando ouve ou lê Isaías 54.6-7.
"Porque o Senhor te chamou como a mulher desamparada e triste de espírito; como a mulher da mocidade, que fora desprezada, diz o teu Deus.
Por um breve momento te deixei, mas com grandes misericórdias te recolherei."
Ela encontrou sua necessidade de perdão divino aqui, ouvindo uma palavra escrita cerca de 2700 anos atrás, como um eco que nunca diminui ou para no tempo.
Um dia Jacó, nosso personagem da nota anterior, saiu fugido de casa, com seu irmão respirando ameaças e morte. Havia trabalhado muito em terra distante, 14 anos pela mulher que amava (quem esperaria tanto nos dias atuais?!) e mais sete pelo gado próprio. Era hora de retornar. Mas tinha aquele problema: a lembrança de um Esaú irado. Estaria esperando numa cilada? Cheio de ódio e amargura?
Eu não sei quanto a vocês, mas sempre que leio este encontro entre os dois irmãos (Gn 33), sinto que Esaú foi mais digno que o filho eleito. Jacó, sempre cheio de estratégias, temendo seu irmão, agrupa sua família em bandos, na frente os menos favoritos (teve mal exemplo de Isaque, seu pai) e antes de todos, seus servos que levam presentes para aplacar sua ira.
O primogênito não olha para nada daquilo – "Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram".
Muitas lágrimas correram pela simples saudades de tanto tempo perdido, mas muitas também correram pela vergonha, pela culpa, pela frustração...
Cabe aqui aquela palavra do Senhor – "Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós" (Mt 6.14).
Outro encontro que rende todo um doutrinamento do gigante de Hebreus é o de Melquisedeque e o pai da fé.
À parte esta questão doutrinária, gostaria de fazer uma espécie de analogia para o tempo presente deste encontro. Vou somente transportar a passagem central:
"Porque este Melquisedeque, que era rei de Salém, sacerdote do Deus Altíssimo, e que saiu ao encontro de Abraão quando ele regressava da matança dos reis, e o abençoou..." (Hb 7.1).
Se nós nos colocássemos na posição de Abraão – como homens de fé aceitos em Cristo – assim como Abraão se encontrou com Melquisedeque somente depois da matança dos reis, também nós, somente depois da batalha de toda uma vida, "contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Ef 6.12), teríamos a bênção certa, final e celestial.
A entrada à fé em Cristo parte do mesmo pressuposto da chamada de Abraão do meio de um povo corrupto. Nada havia nele que o recomendasse, assim como nada há em nós que nos recomende a Deus, "porque pela graça sois salvos, mediante a fé, e isto (a fé advinda da graça) não vem de vós, é dom de Deus" (Ef 2.8).
Mas a vida de fé, em santa separação e constante luta 'contra toda impiedade que se levanta contra Deus' (Jd 1.15), é a consequência natural da nova vida implantada em nós. As lutas serão inevitáveis – contra a carne, o mundo e o diabo – mas a vitória também nos é assegurada pela promessa de quem não pode mentir:
"Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo, a nossa fé" (1 Jo 5.4).
O invisível é a chave para a vitória sobre tudo que é visível, jamais se esqueça!
Mas o encontro que mais me anima, santifica, consola e fortalece é o encontro a meio caminho de Isaque e sua futura esposa, Rebeca. Nada há mais precioso ao cristão que este encontro em analogia futura. Provavelmente eu volte a tocar neste assunto.
Assim como Abraão (o Pai) enviou seu servo (relato de Gn 24) mais chegado (Espírito Santo) para encontrar uma esposa em terra distante (Igreja como corpo de Cristo) para seu amado filho Isaque (Filho), assim nós "seremos arrebatados juntamente com eles nas nuvens, a encontrar o Senhor nos ares, e assim estaremos sempre com o Senhor" (1 Ts 4.17), pois "também gememos, desejando ser revestidos da nossa habitação, que é do céu" (2 Co 5.2).
Pois como "Isaque trouxe-a para a tenda de sua mãe Sara, e tomou a Rebeca, e foi-lhe por mulher, e amou-a" (Gn 24.67), também temos preciosa promessa:
"E quando eu for, e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos levarei para mim mesmo, para que, onde eu estiver, estejais vós também" (Jo 14.3).
O leitor e leitora anseiam por este dia? Ou lhe é indiferente sua iminente volta? Jesus encontrará um povo bem disposto e atento (e falo do corpo cristão!), ou um povo cheio do mundo em seus olhos e dormindo pesadamente?
Se sua esperança se encontra apagada como no segundo caso, aconselho um colírio infalível para esta miopia intermitente:
"Aconselho-te que de mim compres ouro provado no fogo, para que te enriqueças; e roupas brancas, para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos com colírio, para que vejas" (Ap 3.18).
Comentaremos em nossa quarta nota deste livro ímpar dos começos, os 'sentidos precipitados'.