O que precisávamos.
E por horas fico encarando um telefone insignificante, apenas na tentativa de ignorar os desejos de pegá-lo e discar os oito números que tento esquecer a tanto tempo, ainda com a mesma vontade irrevogável de ouvir tua voz rouca sussurrando em meu ouvido, mesmo que seja apenas por um telefone qualquer, mesmo sabendo que a sonoridade da tua voz permanece forjada em algum lugar da minha mente, assim como os traços do teu sorriso deslumbrante. E enquanto espero pacientemente a insegurança se ausentar, sinto as lembranças me tomando por completo, e a vontade de você ameaçando dominar todo o restante de mim… Por quê ainda permaneço com os olhos centrados a este telefone? Eu sei, e ainda tento negar a mim mesma, a ideia de enlouquecer se continuasse contrariando o desejo de ouvir tua voz. E agora com o telefone na mão, tento destruir as indecisões que vêm surgindo ao ouvir a ligação chamar, ecoando em minha mente, me enchendo de lembranças incontáveis. E quando você atender? Oque devo falar? Não teria tanto sentido se eu deixasse escapar o que eu ando incluindo em meus diálogos imaginários, ou se eu falasse algumas bobagens de um ser apaixonado, não teria sentido para ti, e também não gostaria, você nunca gostou dos meus exageros poéticos, por nunca chegar a uma conclusão concreta.
- Alô.
Tua voz continua a mesma, lindamente rouca e tão sua. E como eu esperava, senti a ausência de forças em minhas pernas, e procurei em todos os canto de mim, a minha voz, que se perdeu ao ouvir a tua.
- João…
- Pensei que não ligaria.
Por dois minutos me senti perdida no som da tua risada, que continua exatamente igual, com a mesma sonoridade carregada de sarcasmo enlouquecedor, com o mesmo efeito de me tirar do sério a qualquer momento inesperado ou não. Por um minuto tento racionar parte da minha mente que continua concentrada nas lembranças, querendo perdidamente pensar em algo para dizer-lo.
- Não faz isso comigo, por favor.
- Não fazer oque?
- Se esqueceu do efeito que você exerce sobre mim? Essa tua mania irritante de direcionar palavras com tanta certeza à mim. Como sabia que eu iria ligar?
- Mais cedo ou mais tarde você iria fazer isso, eu a conheço o bastante para saber que você estava encarando o telefone, como sempre fez, eu a conheço e sei que uma vez ou outra você deixaria teu orgulho de lado. Sempre é assim, não se lembra?
Silêncio.
- Me lembro, mas não quero falar sobre isso.
Por que diabos ele tinha que tocar nesse assunto? Como se já não bastasse a falta de raciocínio por causa da nostalgia me tomando desde os meus atos até o ultimo canto da minha mente… Ele tinha que me fazer lembrar do que eu estava forjando, e jorrar algumas lembranças que eu havia reprimido.
- Então, qual o motivo dessa ligação Bianca?
Por um tempo, senti que essa ligação foi em vão, apenas por ouvir meu nome em teus lábios. Eles nunca foram bem pronunciados por ti, tua voz nunca combinou com as letras do meu nome, eu o trocaria pelos nossos apelidos carinhosos, que sempre chegaram em meus ouvidos com um tom de carinho.
- Eu não sei, ouvir tua voz poderia me fazer bem por alguns minutos, pelo menos enquanto ainda permanecemos na linha da chamada. Mas também liguei por querer saber se alguma das garotas que você anda se envolvendo, está te fazendo feliz. Elas estão João? Pelo menos uma delas?
- Felicidade momentânea, pode ser?
Silêncio e silêncio.
Só pude saber que ele ainda permanecia do outro lado da linha, apenas pela respiração dele… Não havia som de nada, um silêncio absoluto, mas por este momento, não me senti incomodada com o silêncio, só pelo fato de ouvi-lo respirando.
- Sinceramente, esperava que você estivesse encontrado uma pessoa qualquer, que seja lá quem fosse, possuísse pelo menos a capacidade de lhe fazer feliz… Você parece ter superado tudo com tanta facilidade, que chega a doer em pensar que você pôde me esquecer tão rápido.
E por fim, sinto meus olhos aguados por sentir um medo incontrolável de saber o que ele poderia me dizer agora. Ele sempre foi sincero, e eu sei que há muita possibilidade de que eu ouça o que eu não quero, e acabe como o de costume.
- Tudo bem. Quer saber mesmo por quê essas garotas me trazem apenas uma felicidade momentânea?
- Acho que sim…
Silêncio.
- Elas me trazem essa felicidade com prazo de validade, apenas por fazer com que eu me lembre de ti ao piscar de olhos… Sentir a presença delas, não é como sentir a tua presença, tão marcante, tão o primeiro encontro, mas eu me engano fingindo que alguma delas é você…
Senti que o pulsar do meu coração passou de normal, para um anormal totalmente fora de controle. Cada palavra suou perfeitamente, fazendo com que minha mente repetisse inúmeras vezes tudo o que ele me falara. A esse ponto havia perdido minha voz, e uma pontada de amnésia me tomou complexamente, me fazendo esquecer tudo que estava planejado a ser dito após a resposta dele - Respira fundo garota - sussurrava à mim mesma. Eu não pude falar nada, eu tenho certeza que qualquer coisa que sair da minha boca agora, será um desastre…
- Minha pequena…
Esse conjunto de palavras despertou um sorriso bobo em meu rosto, e ainda sim continuei em silêncio, por ter absoluta certeza de que minha voz falharia em qualquer tentativa de dizer algo.
- Me espere, não vou demorar muito… Daqui a dez minutos eu passo aí. Eu te amo.
- Eu também.
Foram as únicas palavras que consegui pronunciar antes que ele desligasse, mas que foram completamente carregadas de tudo oque eu sinto.