MULHER: MINHA RIVAL

Penso em mim e na minha solidão; penso em ti e na tua solidão. Penso em nós, árvores ermas, ambas, em algum lugar bem fundo ainda à espera daquele que não virá, daquele que jamais nos poderá voltar, nem para mim, nem para ti; daquele que não consegue ser plenamente nem de si próprio, aliás, exatamente como eu e como tu.

Amiga - permita-me chamá-la assim -: Se não nos é possível esquecê-lo (ainda que o substituamos por outros); se para nós o esquecimento é vedado, também - consolemo-nos, também é para ele vedado tal esquecimento.

Através do Destino Estranho que nos coube e nos cabe, que nos torna rivais e cúmplices, permita que eu te abrace como se abraçasse a mim mesma, assim, à distância de mim e de ti; permita-me rogar ao Deus pela tua Paz e pela minha Paz.

Quando os Fados que nos obrigaram e nos obrigam a este Amor nos puser - eles, que sempre nos põem - mais uma vez frente a frente, por causa deste mesmo Amor, olha-me nos olhos, sem medo nem rancor; deixa que eu olhe, de frente, os teus olhos claros. Entre nós duas nunca houve Traição. Ele,também, nunca nos traiu.

Perdoo-te pela dor que me causaste quando vim a saber da tua Presença ; perdoa-me pela dor que te causei quando vieste a saber da minha Presença. Nunca saberemos, de verdade, quem de nós Otacília, quem Diadorim. No entanto, sabemos ser ele um homem fiel para sempre, a duas Pátrias e a duas bandeiras. Ele, nunca um pirata. Ele, um homem fiel.

Zuleika dos Reis, na tarde de 16 de maio de 2010.