SERENAR MEU CORAÇÃO...

Alto, lá! Quem não for pecador atire a primeira pedra. Não sei se é bem assim que está escrito no texto bíblico, mas o que importa mesmo é que se trata de um princípio válido em todas as relações humanas. Antes de julgarmos qualquer ato precisamos refletir e não se deixar envolver por alguns ranços que estão impregnados em nossa alma e que em muitos casos nos fazem agir por impulso levando-nos a conflitos desnecessários, de onde resultam mágoas e cacos que ficam moídos no chão e que por vezes atingem outras pessoas que nada têm a ver com a discórdia.

Estou aprendendo a dominar meus impulsos. Não se trata de uma regra de inteligência, pois muitas vezes a nossa razão cede para dar lugar à nossa intolerância diante de certos acontecimentos que nos deixam injuriados. Assim, sempre que estou diante de um problema que me leva a agir açodadamente estou fazendo um exercício de mentalização que se consiste no seguinte: Serenar meu coração....serenar meu coração....serenar meu coração....serenar meu coração. Vou repetindo essa frase quantas vezes for necessário até poder estancar o pensamento que vem como um turbilhão, em forma de terremoto, querendo a todo custo alimentar a discórdia e me motivando a partir para o revide.

Curiosamente essa forma de dispersar o conflito veio através do meu sono. Eu estava dormindo na contingência de um problema e quando acordei me vi fazendo esse exercício mental. Percebi que tal mensagem veio do subconsciente que também me impulsionava a não agir como alguém energúmeno a procurar conseqüências na minha forma de conduta. Os pensamentos negativos vêm como uma onda do mar, a princípio são apenas barulhentos como se denotassem apenas a proximidade do mal, mas aos poucos se tornam concretos e bem nítidos na mente, fazendo convulsões nas idéias, desenvolvendo estratégias de revanchismos, através possíveis atitudes que pudessem encarar com reciprocidade o rancor, fazendo-se de mola mestra a impulsionar as águas em sentido contrário, como fez o último terremoto da Ásia, deixando um estrago na sua volta de retorno.

O fato é que esses conflitos em muitos casos são criados dentro de nossa mente. Não precisa haver um fato gerador de relevância. Basta apenas que alguém nos dê as costas no cotidiano. Assim, cada um de nós temos de nos policiar para que não venhamos a fazer desse pequeno conflito uma batalha com canhões e bombas nucleares. É importante saber que cada pessoa tem o seu tempo. Há aquelas que não conseguem “segurar o rojão” (no dito popular) e enfrentam o problema no exato instante em que ele surge. Aprendi que essa forma de agir é bom apenas para uma das partes, ou seja, apenas para aquele que faz o desabafo através da expulsão do monstro que se instalou no seu íntimo. Não é bom para todos os outros que muitas vezes também estão presentes, mas nada tem a ver com o conflito. O exemplo clássico é o dos filhos, quando um casal briga na sua presença. Aquele que desabafa no instante da pendenga está repassando para esses terceiros o fogo que sai de suas ventas e isso pode causar traumas. Assim, sabendo que as pessoas precisam de um tempo para serenar seu coração já existe um bom caminho percorrido para o fim da discórdia.

Depois de tudo serenado e quando essas faíscas da incompreensão já foram embora, fica mais fácil enfrentar um diálogo franco, através do qual cada um dos envolvidos pode discorrer com menos intolerância a sua insatisfação com determinadas condutas.

O interessante é que o exercício em questão se encaixa com certa dificuldade em nosso íntimo. Parece que há algo travado em nosso coração, em que pese estarmos aprisionados a uma realidade que torna transparente a brutalidade da nossa intolerância. Mas é importante termos em mente que o ser racional é capaz de fazer o que deseja no seu subconsciente, vencendo as barreiras da resistência, quando permanece consciente de que o enfrentamento radical do problema lhe renderá conseqüências óbvias. Assim, a melhor maneira de alcançar um resultado satisfatório é o exercício de repetição, como acrescentei alhures, dizendo para mim mesmo que estou prestes a fazer algo que me arrependerei depois e que isso só é fruto de minha intolerância, por isso preciso serenar meu coração...serenar meu coração...

Por outro lado, partindo para uma questão paradoxal e que de certa forma é contestada por algumas pessoas que não crêem na espiritualidade das pessoas, através dessa comunicação da duplicidade entre o corpo (a matéria) e a alma (o espírito), havemos de ter em consideração nossa capacidade de sintonia – através do pensamento – com a freqüência dos desencarnados (na concepção espiritualista), levando à uma certa obsessão que vem alimentada por essa sintonia. Assim, quem professa no seu íntimo uma reação para o mal, alcançará uma freqüência de mesma dimensão e acabará chegando às últimas conseqüências se não for capaz de retroagir para as noções preliminares de bom senso, voltando ao juízo natural que exige bondade não maldade.

Diante dessas premissas, não há dúvida de que o nosso coração, como mentor de nossa pessoa psicológica e subjetiva, saindo da sua orla meramente física, há de conter na sua essência as nossas manifestações que se exteriorizam através do mal ou do bem. Cabe a nós, nos momentos de crise pessoal, mesmo que motivada por um conflito corriqueiro e comum, acharmos os mecanismos que devem funcionar como freio dos nossos impulsos, de tal forma que possamos parar quando estamos com o pé muito fundo no acelerador. Aliás, esse princípio vem da física – para toda ação há uma reação – no entanto, a reação não precisa ser além, ou com velocidade acima do limite permitido aos seres humanos, pois aí não haverá como frear nossos possantes automóveis da ignorância.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 11/11/2008
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