Meus filhos...

Constantemente rememoro nossa velha casa, simples e farta de amor e alegria. Lembro-me dos aniversários de cada um de vocês, os enormes bolos coloridos, a decoração improvisada o brilho dos olhos e uma explosão de felicidade quando apagavam a velinhas.

O passado continua a desdobrar-se dentro de mim. Lembro-me do esforço e também da expectativa que me atormentavam noite e dia para que vocês se tornassem pessoas de bem, cidadãos corretos e sadios e para o êxito dessa esperança eu contava com o auxílio dos livros, da disciplina e do esforço constante em transmitir-lhes bons exemplos, ainda que eu não os possuísse.

As pequenas exigências, as extravagancias, os excessos, a rebeldia, as amizades desaconselháveis e um pouco de ingratidão formaram os raros momentos de não contentamento, entretanto o amor em minha alma é o mesmo desde o dia quando embalei nos meus braços, cada um de vocês pela primeira vez. Pequeninos e frágeis de encontro ao meu peito, abrigando-se qual passarinhos aninhando-se em busca de conforto, foi então que percebi em vocês o meu próprio coração. Meus pequenos e eternos soberanos

Não tenho a intenção de acusa-los de nada, sequer esse pensamento me constrange a alma, entendo que como pai eu deixei rastros de incompreensão e intolerância. Não falarei dos seus equívocos, pois que sou igualmente errado.

Filhos do meu coração, tudo isso eu rememoro buscando tirar ensinamento dos enganos e deleitando-me com os acertos.

Derramei lágrimas e suei muito para proporcionar-lhes algum conforto, afoguei meus sonhos para que vocês pudessem navegar nas águas calmas do sereno mar da alma. Há quem diga que somente as mães é que amam verdadeiramente e quem assim o diz enuncia uma notória constatação da qual não podemos nos furtar, porém os pais amam e amam imensamente.

Toda forma de amor é uma prece, todo amor é uma benção, peço que aceitem a minha benção e busquem seus caminhos pelas vias do amor e da caridade; se precisarem estarei sempre por perto disposto a ampará-los e contendo-me para não interferir no livre arbítrio de cada um de vocês, segurando-me para não querer viver a vida que não é minha.

Errei e muito, mas sempre na tentativa de acertar. Rogo aos céus que minhas faltas encontrem socorro junto ao Criador e que vocês, filhos queridos, possam perdoar as falhas desse humilde aprendiz de ser humano.

Meus filhos, retrato vivo da felicidade que busquei com avidez nesta vida e tudo o que sou, tudo o que sei eu entrego a vocês.

Papai