Que isso chegue a quem deve chegar!
Onde eu nasci fui ensinada a ficar em silêncio. Precisei de muita gente minha vida toda. Talvez para escapar da situação dentro da minha casa. Situação essa que nunca foi minha, mas que mesmo assim, me tornou quem eu sou hoje. Situação essa que foi vez cheia de riqueza, e outra cheia de banalidades.
Que foi vez cheia de mentiras, e as vezes tão honesta que me dava asco.
Lá, fui obrigada a conhecer o mundo antes dele me conhecer. E quando sentia a chuva, era culpada por ficar doente.
A palavra "desculpa" me dá ânsia. Significa tirar a culpa, fingir que não é sua responsabilidade.
E assim que eu cheguei nesse lugar tão individualista, onde as casas não tem buraco e os poços não coagulam, entendi que nessas casas nunca houveram mentiras. Aqui ninguém pode ter nada a esconder no bueiro, ou no canto do sofá. Aqui preferem esconder de onde vem o chocolate que tanto se preza, do que esconder a podridão do vício, da entrega a bohemia, a podridão da vaidade.
O discurso que nos dão no Brasil é que uma paulada na cara é necessária, tanto quanto um "deixa de ser vagabunda!" vindo de quem for.
E saber o tamanho da foda que dão pra isso aqui, me faz pensar no quanto é necessário.
O ensinamento de que é preciso ser desejada, que é preciso correr atrás de alguém que te mantenha em vários sentidos: financeira, emocional e psicologicamente. Alguém que te prometa segurança.
Necessário. Esconder o sofrimento, fechar a cara e olhar para as distrações cotidianas.
Quando se esconde algo, é para causar um dano necessário.
Por esconder o mundo de uma criança, ter consciência de que ele é tão vasto, que a meritocracia tem tanto valor quanto uma panela feita de madeira.
É fácil demais encontrar alguém que vai te ajudar no que você precisa... tão fácil.
Mas, claro, quando se tem uma cara de isca.
E é doloroso se deparar com a ideia de que sempre fomos iscas. Não importa qual o seu "quem."
É doloroso... de que precisávamos ser o oposto do que o homem tem vontade.
E mesmo opostas, não deixamos de ser...
É doloroso demais.
Mas as mulheres brasileiras não abaixaram a cabeça para isso.
Algumas optam por se oferecer como mercadoria para aqueles que nos traziam ouro, nos traziam belos rostos e cabelos. Aqueles que vieram com o papo da comida e do apoio. Com a empatia e a força. E quando se escolhe sofrer para alcançar tudo isso, elas se perdem na inveja, na máscara, na gula, no sacrifício mancomunado. Isso, pra se salvar de uma situação.
E o quanto isso machuca, pra alguns aqui, parece não ser importante falar sobre. Mas em tantos lugares é importante falar do óbvio. E a retórica da empatia é só um preço que se paga.
Na situação política que as pessoas se encontram no Brasil eu vejo que esse é o discurso mais óbvio e geral entre as pessoas.
E é tão necessário,
que o melhor a se fazer é não se envolver com a necessidade
e se aliar com a força.