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Mãe, não dei valor pro teu sonho, sua luta

Diploma na minha mão, sorriso, formatura

Não fui seu orgulho, diretor de empresa

Virei o ladrão com a faca que mata com frieza

Não mereci sua lágrima no rosto

Quando chorava vendo a panela sem almoço

Vendo a lage cheia de goteira

Ou a fruta podre que era obrigada a catar na feira

Enquanto você juntava aposentadoria esmola pra não ter despesa

Eu tava no bar jogando bilhar

Bebendo conhaque

Bêbado eu era o ladrão de traca a escopeta

Com a mãe implorando comida na porta da igreja

Todo natal você sozinha eu na balada

Bancando vinho, farinha pras mina da quebrada

Desculpa, mãe, pela dor de me ver fumando pedra

Pela glock na gaveta, pelo gambé pulando a janela

(2x)

(desculpa, mãe) por te impedir de sorrir

(desculpa, mãe) por tantas noites em claro, triste sem dormir

(desculpa, mãe) pra te pedir perdão infelizmente é tarde

(desculpa, mãe) só restou a lágrima e a dor da saudade

Quantas vezes no presídio me visitou

No domingo, bolacha, cigarro, nunca faltou

Vinha de madrugada, sacola pesada

Pra ser revistada pelos porcos na entrada

Rebelião, você no portão, temendo minha morte

Sendo pisoteada pelos cavalos do choque

Eu prometi que dessa vez tomava jeito

Tô regenerado, ouvi seus conselhos

Uma semana depois, eu na cocaína

Cala a boca, velha, sai da minha vida

Eu vou cheirar, roubar, seqüestrar

Não atravessa meu caminho, se não vou te matar

Sai pra enquadrar o mercado da esquina

Troquei com o segurança, tomei um na barriga

A Polícia me perseguindo, eu quase pra morrer

Só tua porta se abriu pra eu me esconder

(2x)

(desculpa mãe) por te impedir de sorrir

(desculpa mãe) por tantas noites em claro triste sem dormir

(desculpa mãe) pra te pedir perdão infelizmente é tarde

(desculpa mãe) só restou a lágrima e a dor da saudade

Os gambé vigiando o pronto-socorro

Eu na cama delirando, quase morto

Ferimento ardendo, coçando, infeccionado

A solução foi o farmacêutico do bairro

Que só veio por você, com certeza

A heroína que pediu esmola no busão, com a receita

Deu comida na boca, comprou todos remédios

Sonhou com emprego mas o diabo me quis descarregando ferro

Aí eu dei soco, chute, bati com tanto ódio

"- Preciso fumar. Vai, mãe, dá o relógio!"

Velha, doente, desafiando a madrugada

De porta em porta: "- Alguém viu meu filho, tô preocupada"

Fim de semana foi farinha, curtição

Só cheguei hoje e de prêmio te trombei nesse caixão

Um vizinho ligou, que foi ataque cardíaco

Morreu na rua atrás da merda do seu filho

(2x)

(desculpa mãe) por te impedir de sorrir

(desculpa mãe) por tantas noite em claro triste sem dormir

(desculpa mãe) pra te pedir perdão infelizmente é tarde

(desculpa mãe) só restou a lágrima e a dor da saudade