Espero que me perdoes (para minha mãe)
Hoje fiz algo que eu mais temia, fiz minha mãe chorar por algo estúpido e medíocre que escrevi num dia que tudo menos o juízo me acompanhavam, escrevi palavras frias e ácidas para quem não deveria serem entregues. Não sei o que fazer, não sei o que dizer, vejo-me da mesma forma que a tempos, impotente dentro de minhas frustrações.
Vejo-te chorar, meu peito aperta, minha alma chora. Não sei o que fazer. Sei que não tens culpa por eu ser como sou, uma dúvida dentre um mar de pensamentos e mais dúvidas. Não sei o que falar, nunca fui bom nisso, só me resta escrever.
Odeio magoar a quem tanto amo. Sabes que te amo, mas um dia ruim, onde, por minha culpa, minha vida estava na mesma mesmice, apontei para quem não tem nada a ver. Sinto-me culpado. A angustia que palpitava em meu peito todo o dia enfim mostrou seu motivo.
Embora minha face não demonstre, também não sou muito bom em demonstrar o que sinto, não sei por que, apenas sei na escrita, minha mente está num tumultuoso caos. Não tento escrever algo fútil, somente pensando em bem escrever, mas uma vez abro meu peito e deixo as palavras virem.
Sei que meras desculpas não vão fazer mudar as coisas, e não sei o que fazer para que isso se apague, se é que irá se apagar, só em pensar que pode não ocorrer fico aflito, confuso, em cacos, pior que uma garrafa estilhaçada em briga de bar.
Meus olhos vagueiam, oscilando, não consigo encarar-te nos olhos. Não sei se outros cometeram o mesmo crime vil e estúpido que cometi, se sim, não sei como se redimiram, se é que conseguiram. Um mero texto, um estúpido texto escrito sei lá por que causaram imenso dano. Maldita escrita que me destrói. Maldita cabeça que funciona sem eu querer.
Não sei o que fazer. Dúvidas. Se alguém puder me jogar uma luz agradeço. Se não, bem entendo que não mereço. Quero olhar em teus olhos, mas não consigo.
Não tens culpa por minhas decepções, nem por minhas frustrações, mas muitas vezes sinto que vivo uma vida que não é minha, não que me imponhas, apenas não me sinto como muitos, tão confortáveis a viver nesse mundo. Não me sinto cidadão deste mundo.
Perguntaste-me como me sinto, bem, sinto-me como um ser que está deslocado, que não entende o mundo que me cerca. Dizem que está tudo em caos, que tudo é perigo, mas não consigo ver isso, não consigo entender as pessoas, não consigo ter os valores que muitos tem, enfim, sinto-me deslocado, não nesta família, e sim no mundo. Por isso idealizo, vivo num mundo que construo para mim e que sei que não existe. Não tenho empenho para viver, e confesso que muitas vezes me falta vontade e gosto. Sei o que vais dizer “busque o que você gosta”, “vá atrás de teus sonhos”, mas não sei com que sonhar, nem para que. Vive num mundo de dúvidas onde somente me resta escrever. Antes que você pense coisas, não, eu não vou fazer nada extremo, eu não sou tão covarde assim.
Bem escrevo aqui o que trago em mim por anos e não mais consigo conter. Por anos quero falar algo, mas não sei por que não sai de minha garganta “TE AMO”, sim, você minha mãe, a quem escrevi um texto tão medonho e ingrato, a quem nunca pensei q fosse ler aquela merda que não sei por que escrevi.
Vergonha, sim, somente isso me resta. E não sei como me redimir, não sei. Dói-me dizer isso, mas não sei, e é estranho viver sem ter certeza alguma. A maldita ânsia me vem, queimando minha garganta como se fosse purificar-me de meu pecado, mas sei que nada que eu fizer vai apagar o que, sei lá por que, fiz.
Agora sei como os monstros se sentem, podes dizer que estou sendo exagerado, não sei, enfim, apenas escrevo, pós isso evita que eu pensa no meu pecado e que a culpa recaia sobre mim. A culpa, não sei por que, mas ela vez ou outra me vem, como se eu sempre fizesse algo errado, pelo menos é assim que me sinto, seja no estágio quando me chamam atenção, seja quando por falta de atenção deixo de fazer algo, seja por negligenciar algo. Só sei que a culpa sempre me segue.
Queres saber como me sinto, bem, sinto-me vazio, inquieto, perdido sem conseguir ver luz alguma para onde me guiar. Sinto-me inseguro para tomar um passo mais alem. É como eu falo com Thiago, não me vejo mais como alguém prático, tenho dificuldades de fazer coisas que muitos julgam simples, mas no fim me tornei mais teórico, tem suas vantagens, como muitas desvantagens.
Queria ter coragem de falar isso, mas eu não saberia por onde começar nem como falar.
Não te culpo por eu ser quem sou, sei que blasfemei com quem não tem nada a ver com isso, arrependo-me amargamente. Não sei nem por que coloquei aquele lixo lá que agora jaz em algum canto, menos lá onde leste, apaguei-o assim como eu já o havia apagado de minha mente há tempos.
Lembro-me de ti ontem rindo, por ter tido um bom dia com os primos, queria que fosse sempre assim, mas por minha culpa não o é. No fim não me sinto merecedor por ter a mãe que eu tenho, de ter a família que tenho. Mais uma vez a culpa me vem.
Eu sei que eu deveria te falar isso, mas não consigo, tenho meus bloqueios, meus impedimentos, algo que não deixa eu fazer e falar o que quero, no fim me resta a escrita.
Somente queria que me disseste o que posso fazer para que você me perdoe. Sei que mereço sentir o peso da culpa sobre meus ombros para que eu perceba o mal que fiz e o quão vil e mesquinho eu sou, tenho meus defeitos, sei, mas não os usarei como desculpas por minha falha.
Posso ouvir teu choro de onde estou, me pesa muito, fico impotente mais uma vez, não sei o que fazer. Odeio essa sensação. Se não quiseres mais falar comigo, ou não mais olhar para mim vou entender. Não pense que estou sendo dramático, ou que quero chamar atenção, sei que errei e mereço ser punido, tenho total ciência disso.
Sei que sempre me apoiaste, sempre estiveste ao meu lado, eu sei a ótima mãe que tu és, e sei que eu nunca serei o filho que mereces que eu seja. Não te culpo por minhas faltas de interesse, nem por minhas falhas, sei que sou o único culpado e responsável por eu ser o que sou e no que virei a me tornar.
Só espero que me perdoes, se não, bem, entendo o mal que fiz.
Ass.: JP, te amo minha mãe.