DIA DE REIS, EXALTAÇÃO!

Milênio Nascente ...

Nadir Silveira Dias

Seis de janeiro de dois mil e um, zero hora e doze minutos. Estou só. Como sempre estive. Nasce o dia dos Reis Magos.

À mesa, sobre a tábua, corto a carne. O pão doce, o vinho frisante, tudo sobre o azul-céu e branco da toalha simples – majestosa.

Saúdo o século passado, o milênio que passou.

Saúdo o Senhor de Todos os Mundos. Saúdo Deus Pai, os Deuses de todos os recantos da Terra, os Deuses todos de todas as Eras, os Deuses todos de qualquer pedacinho, de qualquer ponto do Universo. Eu estou Neles. Eles estão em mim.

Saúdo os Deuses do Ano. Saúdo os Deuses de cada segmento humano, religioso, pagão, claro, escuro, branco, amarelo e todas mais as segmentações que existirem, existem ou haverão de existir.

Eu vi, passeando pelo tempo, tantas coisas e muitas ainda verei para o bem, para o melhor da humanidade, apesar da imensidão desta quadra também imensa de incertezas, que a todos envolve.

Saúdo o pai biológico, tão-só pela graça da vida. Início de tudo neste plano. A mãe, corpo físico e espiritual, genitora que me acolheu, deu-me a luz da vida, cumprindo os desígnios do Senhor.

Saúdo e agradeço à mãe que nunca pariu e criou filhos como se fossem nascidos de si.

Saúdo todas as mães, saúdo todos os pais-mães, cujas mães caíram de si – fugiram da vida real – subiram ao mundo irreal das ilusões – meras luzes temporais – momentâneas, enquanto a carne ainda oferece algum atrativo para os níqueis.

Saúdo todas as mães-pais que tenham conseguido bem sair de relações em que se envolveram (ou, não raro, se deixaram envolver), sem ter que apanhar, bater, matar ou morrer ... assim, bem ou mal, toquem a vida, numa situação mais saudável do que aquela que antes viviam.

Saúdo cada ato de amor, vivido ou sonhado.

Saúdo o carinho de cada irmão, cada ser com os quais tenha cruzado ou simplesmente vibrado na harmonia cósmica universal. Tocados ou não, ... ou simplesmente intuídos.

Saúdo cada ato de amor físico, cada contato, cada gesto com ou sem o gozo prazeroso de um encontro maior – aquele que conduz e faz a vida como diz o Pai, que tudo sabe, que tudo vê, hoje e sempre, durante e através do tempo, do espaço.

Saúdo o que está por vir. Saúdo em especial o amor que construí ao longo de meus poucos dias por aqui nesta existência. E tudo será bom e bonito, apesar do recorrente apego pessoal à forma, à proporção, à razão, a tudo que é belo.

Na arte da Natureza, na arte criada, na arte que virá.

Na arte maior que é o ser humano.

Saúdo a irmã de jornada, nem maior, nem menor, simplesmente a outra parte de um todo único – o nós – a dois ou a dez – no concerto universal de cada sociedade, segundo a sua própria ótica, seu próprio nível evolutivo, segundo o seu próprio e discernido entendimento dos desígnios do Senhor.

Saúdo àqueles que não foram lembrados, àqueles que, desviados, afastam de si todos os demais irmãos.

Saúdo os mortos à bala, faca, foice ou facão, de curva, na estrada bem ou mal construída, bem ou mal conservada, seja por ação própria ou por hora certa no relógio motriz final.

Saúdo os vivos mortos, que nada têm além de sua morte viva, no segmento vegetativo a que estão sujeitos por causas antecedentes ou a que deram causa, aqui e agora.

Saúdo cada esforço individual, cada passo, cada palha, que cada irmão tenha envidado, dado em favor de seu vizinho, de sua rua, de seu bairro, sua cidade, seu Estado, seu País, de sua própria ou de alheia vida.

Saúdo o século que ora se vai, o milênio que se foi, na estreita medição que fazemos nós, pobres humanos somos!

Saúdo o Novo Século, o Novo Milênio, o terceiro cristão, embora estejamos agora vivendo o oitavo milênio da Era Alexandrina.

Enfim, saúdo o homem – espécie – Deus feito carne com a centelha divina da consciência oriunda do Criador, ainda que opaca, nesta quadra da existência, quando o normal seria o brilho cada vez mais intenso, o mais fulgurante dos seres.

Saúdo Você, irmão, irmã, independentemente do papel que agora esteja a representar no concerto universal dos tempos, hoje e sempre, saúdo Você!

Um Milênio de Paz, um Milênio de Amor!

Escritor e Advogado – nadirsdias@yahoo.com.br

Nadir Silveira Dias
Enviado por Nadir Silveira Dias em 09/10/2005
Reeditado em 01/01/2006
Código do texto: T58065
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