PAI

Com a chegada do dia dos pais, os meios de comunicação nos entopem de propaganda, confirmando a visão de ser mais uma data para o comércio alavancar suas vendas.

Mas sabe pai, não tem como não sentir uma certa alegria pela comemoração desse dia. As lembranças da nossa infância nos invadem!

Pai... Lembra da minha primeira bicicleta? O quanto você insistiu pra que eu aprendesse a me equilibrar e eu até chorava porque tinha medo... Todos me chamavam de covarde, e eu não ligava. Até que um dia, peguei a bicicleta e como num passe de mágica, sai pedalando pelas ruas!

Pai... E a minha primeira cirurgia, lembra? Mamãe toda preocupada pedindo para me levar no hospital e você falando que era manha. E quando me internaram, em urgência, seu choro desconsolado me abraçando, pedindo desculpas. Sabe pai, eu também sofri com suas lágrimas.

Pai... E a pescaria, lembra? O passeio foi até gostoso, mas ficar parado segurando aquela varinha de pescar! E quando o peixe pegou a isca e você mandou puxar. Puxei com tanta força que o bicho pulou em cima de mim. Lembro o quanto chorei de susto e pelo peixinho que se debatia.

Acabei com a pescaria não é?

Pai... O passeio de Kart foi inesquecível. Aquele eu gostei muito. Me sentia um perfeito piloto de fórmula 1, todo equipado, de luva, capacete. Pena pai que o dinheiro que tínhamos era pouco e você não pode me acompanhar. Ficou lá, acenando a cada rodada que passava, com a maior cara de felicidade, como se fosse você a pilotar aquela máquina.

Pai... E a encrenca que eu te meti, no jogo de futebol, lembra? Fomos assistir ao jogo de seu time e quando ele fez o primeiro gol, eu gritei gol... do adversário. A torcida ao lado, avançou em cima e mandou a gente sair.

Mas você não queria sair e disse que eu era somente uma criança... Percebo hoje a irracionalidade de uma torcida.

Acho que foi isso que fez eu me afastar do futebol e não ser tão fanático como a maioria dos meninos!

Ah pai! Tenho tantas lembranças boas de você! Do seu companheirismo, das lutas pela sobrevivência, das broncas e até mesmo dos castigos.

Hoje já crescido, um tanto rebelde em relação aos seus conceitos de vida, um tanto ausente das comemorações da família, talvez passe a idéia de que não ligo mais pra você. Mas não é verdade. Tenho sim a sede da vida, como todos de minha idade. Sou egocêntrico com meu viver.

Porém pai, as lembranças, os carinhos, os ensinamentos estão presentes em mim como tatuagens e agradeço por ainda ter você vivo, ao meu lado, como um sólido porto quando meu destino chamar.

Pai... de todos os presentes que poderia te dar, nenhum seria maior que a confirmação do meu amor e carinho e devolver-lhe a certeza que você continua sendo o meu herói, meu porto e meu abrigo!

Santo André, 26.07.05 – 11:08 h