*SABE, MÃE!
Sabe, mãe, mal você vem falar comigo, eu digo que não tenho tempo, que meus amigos estão me esperando, e saio de casa tão logo chego, pra que você fique me esperando em vão.
Sabe, mãe, quando chego bem tarde, você está na sala me esperando, costurando debaixo da pequena lâmpada e eu nem falo direito com você; nem digo boa noite direito a você, e me atiro na cama que você arrumou, sem querer tomar o leite ou o café que você esquentou e vou dormir sem ligar, sem me lembrar de que você não dorme direito enquanto não vê chegar.
Sabe, mãe, eu sei que você fica mais triste do que com raiva quando vê os quadros, os pôsteres do meu quarto, até parece que eu não dou mais valor ao seu jeito simples de se vestir e me prefiro... Bem... Vamos deixar as coisas como estão!
Sabe, mãe, eu não deixo nem você terminar as frases, porque o telefone está tocando e as minas querem falar comigo e as gatas esperam minha voz, e eu tenho de ir para a roda-de-samba e não posso ficar ouvindo a tua lenga-lenga de sempre ainda que você fale tão macio!
Sabe, mãe, depois que o velho morreu, eu nunca mais te levei para um passeio, para que você fosse ver a tia, para que você visse outra vez a rua e a praça, mas sempre corro me escondendo de você, enquanto finjo estar em casa; também finjo não escutar quando, de manhã, você tenta me acordar para te acompanhar à igreja, mas acordo no mesmo instante se são outros que me chamam, se me buscam para outros lugares, evidentemente!
Sabe, mãe, eu não teria coragem até de dizer a você onde ponho o dinheirinho que você me dá com tanto sacrifício, tirado da pequena pensão do seguro que já deve estar agora no fim.
Agora, porém, eu te vejo dormir cansada, vejo com a pele pergaminhada, no sono de quem se matou por mim durante todo dia e durante todos os dias, que se cansou de esperar por mim durante a noite.
Eu queria te dizer, mãe, que um dia teus cabelos brancos se alegrarão, que sua boca terá com que sorrir, seu coração com que se alegrar, porque eu te abraçarei sem dizer palavras, e você compreenderá que, apesar de tudo, e só não desistindo, você fez com que eu desistisse de continuar como vinha, e então eu poderei dizer-te,
Que finalmente sou gente,
Gente como você quis, mãe!
HOMENAGEM A TODAS AS MÃES DO MOVIMENTO FAMILIAR CRISTÃO-MFC.
*Texto gentilmente cedido e autorizado por Angelita, membro do Movimento Familiar Cristão – Serra Verde – Divinópolis-MG