O queremos do amor?

Estava pensando no quanto estamos tendo acesso a tantas coisas, que vão desde as informações, em tempo real, até aos mais sofisticados bens de consumo e, mesmo assim, nos sentimos vazios e carentes, ainda que, super abastecidos materialmente (parcela pequena da população, é verdade).

Estamos carentes, na maioria das vezes de um amor afetivo-sexual: de um companheiro, de uma companheira, de alguém com quem (com)partilhemos nossa vida. Homens e mulheres estão buscando...

Busca-se o ser amado de diversas formas: anúncios em jornais, nas baladas, nas salas de bate papo e no sites de relacionamentos da net. Enfim, encontrar o amor, sempre esteve presente nas buscas dos seres humanos, mas na atualidade, parece que tal necessidade tornou-se um imperativo. Assim, criam-se os pares perfeitos, metades ideiais, agências de casamento, dentre outros.

Acho que duas perguntas são essenciais: quem é este ser que buscamos para amar e, o que esperamos deste amor?

A primeira pergunta é facilmente respondida na análise dos sites de relacionamentos: pede-se dados do perfil como se estivéssemos encomendando qualquer mercadoria: peso, altura, cor, estilo, dentre outro. Ressalte-se que, na grande maioria, o perfil solicitado ultrapassa a perfeiçao estética. Dois ou três itens referem-se a aspectos da personalidade. Novamente, a busca da perfeição se sobressai.

Uma conclusão preliminar a esta primeira pergunta é de que, buscamos um ser para amar que é irrel e, por ser irreal, nunca o encontraremos, o que nos fará eternos "buscadores".

A segunda questão, me parece igualmente desafiadora, porque creio que ainda não sabemos o que esperamos deste amor, à medida que projetamos um ser irreal. Retomando à análise dos sites, busca-se uma companheira, uma cara metade que atenda todas as necessidades e vazios do "dono do perfil". Quase nunca se lê uma frase do tipo: "quero alguém para fazê-lo/a feliz" e, ao fazer ser amado feliz, a reciprocidade seria conseqüência.

Conclui-se que: apesar de querermos amar ainda não atingimos a maturidade:

para escolher o/a companheiro/a pela sua essência; nem nos dispomos a conhecê-la, afinal, olhamos, apenas, para a aparência (o esteticamente belo);

Não nos libertamos do egoismo de querer que o/a outro/a nos faça felizes, atenda aos nossos anseios; a felicidade dele/a é secundarizada;

para compreender que amar, assim como, em qualquer relação exige construção, investimento; com uma diferença: os ganhos são imateriais e inegociáveis;

para decidir que a escolha do ser amado deve-se pautar em valores e princípios que a sociedade capitalista não torna mercadoria: companheirismo incondicional; parceria, entrega amorosa, um sorriso franco e terno, solidariedade, comunhão e o prazer de uma boa prosa tendo como interlocutor/a alguém que nos ama e que efetivamente nos faz e nos quer sempre felizes.