O dia em que EROS sussurrou para o VÁCUO
Usando uma linguagem extinta há milênios, oriunda de um sistema estelar isolado no espaço cósmico, escrevo-te -- não com tinta, mas com poeira de quasares em processo de fusão galáctica.
Como quando eu te beijei pela primeira vez e minhas mãos suavam como se segurasse um cometa.
Em vez de papel, gravo estas palavras com radiação emitida pelos discos de acreção no ventre de um buraco negro...
Porque nossa história não pode ser contada em pergaminhos e nem em cartas guardadas nas minhas gavetas entre fotos e lenços com teu perfume...
Ela, outrora feita de caos, mas que, depois de algumas chuvas de meteoros de desentendimentos, abduções pérfidas, atrações gravitacionais de outros planetas, vieram, enfim, os anos da calmaria; décadas de compreensão, serenidade e maturidade; um caminho trilhado rumo ao meio século de parceria, em direção ao espaço longínquo da eternidade.
LEMBRAS?
No próximo dia 9 de junho de 2025, completaremos 36 movimentos de translação da Terra...
Foi há exatamente 36 rotações terrestres em torno do sol que nossos olhos colidiram como sóis suicidas, naquele instante singular em que as órbitas dos nossos destinos se entrelaçaram.
Um encontro fortuito numa casa qualquer do Conjunto Médici 1, em Belém-Pará.
Eu -- careca reluzente, recém-nascido de um vestibular vencido.
Tu -- sentada numa cadeira de balanço, cabelos enrodilhados e ornados de bobys alquímicos.
Uma verdadeira rainha do alvor e do destino, que tinha nos olhos, o abismo e o clarão. Mistério casto de um lirismo divino, que acendeu o meu abismo em combustão.
Foi a primeira vez que te vi, Enigmática!
E, perdido em meu próprio delírio, vi apenas uma alienígena de olhar excruciante. Um olhar que colidiu com o meu, invadindo meus pensamentos na velocidade de ondas gravitacionais... fazendo-me esquecer o motivo que me levara àquela casa...
Alí, advindos de exoplanetas distintos, sem perceber, reacendemos novamente a centelha imortal do nosso amor interdimensional...
-- NOS TOCAMOS, SEM TOQUE!
E então... o universo fez-se festivo.
Desencadeando acontecimentos interestelares numa reação em cadeia:
-- Plutão chorou emocionado.
-- Urano, a mais fria das atmosferas, aqueceu-se.
-- Os anéis de Saturno trincaram de entusiasmo.
-- Mercúrio, aquele das temperaturas extremas, sossegou.
-- Netuno brilhou ainda mais azulado.
-- Vênus, que gira em rotação retrógrada, por um instante girou no mesmo sentido que a Terra.
-- As poeiras dos anéis de Júpiter apaixonaram-se entre si.
E o Monte Olimpo de Marte, o maior vulcão do Sistema Solar, entrou em erupção.
Enquanto isso, aqui na Terra, meu coração batia tão alto que abafava o som do toca-discos que tu ouvias na sala, embalando-se em tua cadeira.
Esses eventos acenderam -- não com brasa, mas com erupções solares -- uma chama na antimatéria que pulsa em nossas almas vibrantes.
Almas destinadas uma à outra, sob o altar do impossível.
Seremos nós fugitivos celestes?
Expulsos do abraço de uma supernova de gravidade invertida?
Enviados como penitência a um planeta que apodrece devagar... para, mais uma vez, redescobrirmos o amor, e assim, elevarmo-nos no processo da evolução espiritual?
A verdade é que viemos de muito longe...
Muito além do barulho das nebulosas.
Fomos lançados como asteróides rebeldes e atraídos pela via láctea, para cair: despidos de luz... separados e esquecidos um do outro... no pálido planeta Terra, até o momento em que... um ônibus atrasado, uma chuva vespertina torrencial e uma visita inesperada nos colocaram frente a frente num fim de tarde qualquer em Belém...
Acontece que, já nos amávamos antes de sermos carne... no plasma... no vácuo...
Recordo-me saudoso do início de nosso namoro, quando trocávamos carícias nas esquinas das impetuosidades juvenis, cheios de silêncio, tremores e brilho no olhar...
Como esquecer... quando eu chegava a frente do teu prédio de apenas três andares e, ao tocar a campainha do apartamento, no segundo andar do edifício Nany, na Rua João Balby... eu, ansioso por dias sem te ver, conseguia ouvir seus passos apressados pela sala e, ao surgir na janela e me ver, teus olhos e cabelos cor de mel brilhavam mais que uma tempestade solar..
Bastou apenas alguns movimentos de rotação da Terra para trocarmos beijos apaixonados. E quando fizemos amor avassalador, confundimos a metafísica de nossas existências. Dessa paixão transcendental vieram eles... nossos três filhos-cósmicos: seres estelares nativos de planetas intergalácticos... transportados como meteoritos, com a missão de manter o equilíbrio e a perfeição no nosso lar terráqueo.
Cada um deles, advindo com uma marca interestelar própria, veio em cápsula de carne humanóide e com olhos que viram de perto, o planeta anão - Plutão e as luas de Urano e Netuno.
O primogênito JOÃO MARCUS... é o nosso navegador de constelações digitais, com mãos que tocam acordes maviosos que a astrofísica não compreende... Ele veio para ensinar que o amor, mesmo bruto, mesmo difícil... é também matéria escura, ou seja, invisível, mas que mantém tudo coeso... Ele nasceu como os planetas gasosos: denso, intenso e misterioso... aquele que ninguém entende por completo, feito completamente de gravidade emocional.
Ele não veio sozinho... Ele cruzou os véus do espaço-tempo, acompanhado de uma alma impoluta -- SUA IRMÃ GÊMEA -- sua parceira de ventre e de origem. Eles vieram de um sistema binário à beira do colapso gravitacional... Duas estrelas gêmeas dançando em espiral, até que uma se dissolveu em luz antes de tocar o chão do mundo, pois, o universo em sua sabedoria incompreensível, permitiu que apenas um dos dois respirasse a atmosfera densa da Terra...
ELA JÁ NASCEU DO LADO DE LÁ!!!
Com os olhos fechados e o coração ainda pulsando em outra dimensão... Ela não chorou ao nascer, mas também não silenciou, porque você -- MINHA QUERIDA FILHA VITÓRIA -- está literalmente entranhada na minha pele e, portanto seguirá junto comigo para além das dobras da morte física.
Ela é a irmã que nunca esteve presente nos aniversários, mas sempre foi sentida nos sonhos. É o cometa que não chegou, mas cuja cauda ainda brilha em cada gesto do João Marcus. Eles são dois astros gêmeos, mas com órbitas diferentes: João Marcus é terreno e tempestuoso como Júpiter; a Vitória é etérea e silenciosa como uma estrela cadente que cumpriu sua missão apenas ao existir por alguns meses, protegida e amada, dentro de sua mãe. Talvez por isso, o João Marcus tenha vindo com uma força dobrada... Um guerreiro com camadas densas e emoções vulcânicas que desafia o senso comum.
Ele carrega o peso de 2 corações...
Vive por dois...
Resiste por dois...
Ama por dois...
E, no silêncio que o cerca, há sempre um segundo nome sussurrando no espaço: VITÓRIA!!
JAMAIS TE ESQUECEREMOS, FILHA!!
O filho do meio, DAVIH, meu parceiro sideral de caminhadas terrenas, não veio das mesmas galáxias que nós. Ele desceu da dobra silenciosa do universo, onde as palavras não existem, apenas pulsações de energia pura. Advindo do gelo brilhante da lua Encélado -- um dos satélites de Saturno -- Davih chegou a Terra trazendo o mistério dos que guardam oceanos inteiros sob camadas de silêncio. Seu olhar terno, altera o campo gravitacional dos sentimentos ao seu redor. Quando sorri... é como se pequenos gêiseres de afeto jorrassem direto do núcleo de sua alma.
Ele não fala, porque vibra...
Ele não explica, porque irradia...
Ele nasceu à revelia do som...
Onde o amor é transmitido por frequências...
E as pessoas se comunicam por luz...
É DE LÁ QUE O DAVIZINHO VEM!!!
Em sua quietude há a vibração de estrelas antigas... em sua presença, o tempo desacelera e sua alma percebe o que os sentidos ignoram: que há sabedoria naquilo que não se traduz. Davih não veio para dizer coisas... veio para nos lembrar de que AMAR é sentir o outro mesmo quando não há som... veio para nos mostrar a beleza das rotas não mapeadas... Davih é nossa estrela de nêutrons... desprovido de sentimentos malévolos e com danças eclipsadas por estereotipias e ecolalias... Ele não veio para caber no mundo... ele veio para mostrar que o mundo, às vezes, é pequeno demais para certas almas... um milagre que implodiu para dentro, mas que aquece o sistema solar do nosso lar.
A caçula ANA CLARA, um querubim de características incomuns, oriunda das bordas da "Nebulosa de Carina", onde os sóis ainda são moldes incandescentes e a poeira estelar se comporta como linho cósmico... Ela pousou em meus braços inundada de amor interdimensional e com mãos que já sabiam costurar o invisível.
No planeta Terra, estuda para ser Modelista de vestuário, pois em outros mundos, era conhecida como Modelista dos Cosmos... a filha das estrelas e dos tecidos galácticos. Naqueles mundos, quando abria seu caderno de moldes, recriava a ordem cósmica em cortes e dobras, com suas réguas francesas, curvas e vazadas. Suas mãos, não apenas traçavam roupas... Elas costuravam galáxias sobre o corpo humano. Era como se, cada tecido que tocava, transferisse poeira espacial e, cada agulha entre seus dedos costurasse uma ponte entre o efêmero e o eterno. No ateliê universal da criação, ela foi aprendiz dos Deuses da estética interplanetária.
João Marcus, Davih e Ana Clara foram enviados por uma deidade celestial... o programador do multiverso, mas não como prêmios, e sim, como bússolas, para nos endireitar da curva torta das nossas almas interplanetárias nômades... e para lapidar o erro eterno que nos acompanha, desde quando éramos poeira apaixonada nas bordas de Andrômeda.
Ou será que eles vieram para nos desviar de uma rota de colisão devastadora... entre mim e a mãe de vocês!!! Seres falhos que somos (fomos): egoístas, vaidosos, cômicos e dispersos, visando realinhar as órbitas do nosso espírito, para que, então, deixássemos de ser astros errantes e passássemos a girar um ao redor do outro?
Na verdade... Eles são nossos pequenos titãs!... ou, quem sabe, tritãos que carregam nos sorrisos, a memória, talvez, de civilizações perdidas, submersas, interplanetárias...
E, em suas lágrimas angelicais, a lembrança das guerras pérfidas que travamos em corpos que já não temos mais.
Entretanto, ainda hoje, quando nos amamos e a minha mão se entrelaça na tua... ouço o som de galáxias distantes... sinto o calor de planetas que vivemos em outras existências e onde fizemos juras de amor que nenhuma dimensão, temporal ou espacial, apagará!
E, mesmo quando a morte vier, essa ilusão cadavérica, e nossos corpos forem engolidos pela terra... devorados pelo tempo... e servirem apenas de adubo para medrar a beleza efêmera das flores...
NOSSOS ESPÍRITOS JÁ TERÃO RETORNADO ÀS ESTRELAS!
Provavelmente eu irei primeiro, mas, tudo bem! Nem após o fim do corpo... o amor — essa aberração cósmica — cessará de urdir seu canto de fogo e paixão.
Decerto que nos encontraremos novamente numa galáxia errante qualquer, transportados nas ondulações do espaço-tempo ou na própria cauda do cometa Halley, como dois amantes exilados... pois eu te amarei mesmo quando não tiver corpo... mesmo quando meus átomos forem ventos espaciais nas asas de Saturno... ou mesmo quando minha consciência for apenas um eco, gritando teu nome pelas cavernas do espaço!
Eis que, o amor que carregamos é anterior à luz, o qual inspirou-se para criar o Universo.
Por isso, eu rastejarei atrás de ti pelos "buracos de minhoca"...
Nos reencontraremos na intersecção das estrelas mortas!
Nos veremos por entre explosões de universos paralelos...
Ou na dobra exata onde começa o sonho!
Enfim, nos veremos além da forma... além do tempo... além da vida!
Saiba que, o teu ser, no meu ser, há de renascer, na volúpia do espaço infindável.
Pois, de uma vez por todas, eu sou aquele que nunca... jamais deixará de te procurar pelas galáxias que vagueiam na imensidão do universo... que, tal qual o nosso amor... só se expande... Indefinidamente.