Letras de um Canto Antigo

Ela desceu pela escadaria de pedras entremeada de flores e parou de frente para a escuridão. Cada passo na escadaria parecia um ritual, um enlace com a memória. As pedras, frias sob os pés, ofereciam um contraste com a suave brisa que trazia consigo o cheiro salgado do mar. As flores, testemunhas silenciosas, exalavam um perfume que se misturava com a maresia, criando um ambiente mágico e ao mesmo tempo melancólico.

Seus pés cravaram-se nas areias molhadas e frias do mar... As ondas acariciavam sua pele num ritmo cadenciado e melancólico... sussurrando seu nome nas ondas, o vento... O frio arrepiava seu corpo e ela se abraçou numa tentativa de se acolher em si mesma. Dos olhos desciam laivos de saudade e dor...

A lua, majestosa no céu, iluminava o caminho e refletia um brilho prateado nas águas calmas. As estrelas, como guardiãs noturnas, observavam em silêncio, piscando timidamente, talvez em cumplicidade com seus pensamentos. O mar, com seus sussurros e segredos, parecia entender a profundidade de seus sentimentos, respondendo com uma serenata contínua de ondas que vinham e iam, em um ciclo eterno de chegada e partida.

Cada onda que tocava a areia trazia consigo uma lembrança, um fragmento do passado, ressoando dentro dela com uma melodia silenciosa, mas profunda. A beleza da noite era inegável, mas ela não conseguia afastar a tristeza que preenchia seu coração. A saudade era um visitante constante, um eco que persistia mesmo diante do esplendor da natureza ao seu redor.

E assim, com os olhos fixos no horizonte, as lágrimas desceram silenciosas, como letras de um canto antigo, uma canção sem som que narrava histórias de amor, perda e saudade. Naquele momento, entre a beleza e a tristeza, ela encontrou um estranho consolo, uma compreensão tácita com o universo, onde até o silêncio tinha seu próprio cântico.