Teus dedos de cinzel e nanquim

 

Esse ano eu quero submergir em tua mente sábia, percorrer os rastros inefáveis que teus pés deixam em tua mente ao pensar a verdade, ao racionalizar o cotidiano e carregá-lo ao transcendente, aos sentimentos mais profundos que beiram o caos e o céu de teus pensamentos.

 

Eu quero conhecer os teus pré-pensamento. Aqueles que você segreda a ti mesmo antes mesmo que sejam, antes que existam. Quero vê-los, ouvi-los antes mesmo de concebê-los, quando pairam no espaço entre o teu pensar ou não pensar. No momento decisivo para o pensar.

 

Eu quero deitar à sombra do que tu pensas e me entregar a elucidação de teu refletir sobre a vida, o tempo, o que ano que se finda e o ano que se inicia, o calendário da parede que vai perdendo as folhas que, secas, caem ao chão para uma nova jornada ao vento.

 

Eu quero conhecer todas as explicações do teu pensar que jazem em tua consciência, mas antes dela, no teu inconsciente, aquele mesmo que sabes estar lá, mas agora não o vês, não o conheces, não o sentes.

 

E quero dançar com as sombras, com os ventos interiores, os vendavais e tempestades que também formam o teu pensar, os sóis que elucidam teus enigmas e as luas que encantam pela forma crítica como vês, sentes, percebes e explicas a realidade. Essa, sim, essa realidade em que vivemos e que há tanto sobre ela falar. Eu quero estar contigo na criticidade do teu pensar, também no momento em que formas as palavras para no papel as concretizar.

 

Eu quero... conhecer profundamente você... por fora, por dentro... em todo momento, em todo o tempo...  Eu quero navegar contigo em teus pensamentos, contemplar de dentro a tua genialidade, tua inteligência.

 

Quero ter a percepção do momento exato onde teu pensamento opera entre a substância e o movimento e se torna concreto na palavra, se faz realidade na ponta dos teus dedos de cinzel e nanquim.