UM MENINO DE RUA
UM MENINO DE RUA
Eu sou um menino de rua;
Com os pés descalços e a barriga nua.
Durante uma parte da minha infância, estive ao lado do meu pai e, nas horas mais difíceis, meu velho com a sabedoria que não aprendeu nos livros sempre dizia:
“SEJA VIGILANTE E EVOLUA, POIS A FÉ EM DEUS EM MIM CONTINUA”.
Nos momentos em que a caridade alheia não se fazia presente e faltava o pão de cada dia, com ternura ele repetia:
“SEJA VIGILANTE E EVOLUA, POIS A FÉ EM DEUS EM MIM CONTINUA”.
Nas noites frias, deitado nos bancos das praças ou no chão em baixo das marquises, ele insistia:
“SEJA VIGILANTE E EVOLUA, POIS A FÉ EM DEUS EM MIM CONTINUA”.
Mas houve um tempo em que fiquei de mal com Deus;
Pois ele levou aquele quem eu tanto acreditava;
Apesar dos conselhos seus;
A tristeza da invigilância me dominava.
A marginalidade e as drogas observei lado a lado;
Vendi balas nas esquinas, lavei carros com flanelas;
Embaixo dos viadutos, pelos mais velhos fui roubado e torturado;
Expiei o meio negro e triste das favelas.
Foi então que um jornaleiro amigo que naquela praça estava;
Deu-me uma chance pra trabalhar e, me acalmando a alma assim falava;
Vigie sempre, pois a fé do teu pai em ti atua;
Hoje eu sinto a presença sua,
Mesmo não te vendo aqui;
Pois percebo que a semente que foi plantada
Me semeia e me faz seguir
.
Meu pai, onde quer que tu estejas,
Saiba que oro e vigio sol a sol, lua a lua.
E com a Graças de Deus, a tua fé também em mim continua.
E você que se vê aí indiferente;
E que não tem nenhum dos seus na rua;
Saiba que Deus está aqui presente;
Aguardando também uma atitude sua.
PEDRO FERREIRA SANTOS (PETRUS)
15/12/2007