Alvorada
Ah, alvorada, por que me iludes, deixando-me louco de prazer por algo figurado? Por que tomas meu corpo e faz teu, doutrinando-me em sua filosofia mortal e melancólica, provocando dúvidas além da compreensão humana, que me devoram lentamente, até abandonar a minha ossada na beira da estrada, condenando-me a podridão eterna?
Eu esperava querida alvorada, que no alto desta chapada, tu irias me iluminar, banhando-me com seu calor em 15 minutos de prazer. Contudo, deixaste-me na beira das águas frias, para que a correnteza me afogue e me despeje na imensidão do oceano vazio, traçando meu trajeto ao porto solidão.
Maldita alvorada, que de tanta beleza, despertas um sentimento único, complexo, digno de ser exaltado, ao ponto de me colocar em seu belo campo de girassóis, sentindo-me preso a tua existência e, aos poucos, apagando minha essência.
Eu desejo a ti querida alvorada, que me esqueças, deixando-me suavemente, na expectativa que outra apareça em seu lugar. E eu lutarei contra este maldito sentimento que, mesmo com sua saída, me assombra, sendo mais difícil de apagar do que espumas ao vento.
Por que, mesmo depois de tudo, da minha breve e ilusória felicidade, do meu sonho não vivido, dos desprazeres e incertezas em tua presença, ainda te amo? Ainda lembro-me de ti na boemia da cidade em minhas desventuras noturnas. Ainda acredito em um romance individual, em uma realidade que uma mesa de bar é incapaz de criar.
E mesmo que outra surge, por mais compatível que seja, é a tua filosofia, o teu romance, a tua presença que desejo. O teu olhar, os teus braços e o teu abraço confortam-me de tal maneira que me levam ao paraíso, onde desejo imensamente o conforto dos teus lábios.
Eu só queria saber, querida alvorada, se poderei satisfazer meus desejos ao teu lado, se te desejar não será a pior das minhas escolhas, se te admirar todas as manhas será o meu melhor destino. E com isso eu te pergunto, quando que poderei olhar para ti sem me queimar?