FÁBULA DA LIBERDADE

Fábula da Liberdade

Caminhando por uma estrada em busca da cidade Perfeição Coletiva, a Liberdade, entronizada por forças superiores no cargo de Suprema Definidora de Opções, sentiu-se contrariada por essa nova missão. Inimiga de rótulos, via sua nomeação como uma ofensa à sua natureza intrínseca de manter abertas todas as portas de escolhas. Tão logo se propagaram as suas atribuições, iniciou-se uma verdadeira avalanche de visitas, todas elas com infinitos argumentos que ela, Liberdade, deveria seguir os preceitos de cada visitante. Sem saber o que fazer, procurou sua amiga Sabedoria em busca de conselhos. Por sua vez, a Sabedoria possuía uma imensidão de propostas de linhas de raciocínio, filosofias, crenças, crendices, lendas, mitologias, ciências. Etc.. Delicadamente expôs seu problema e explicou à Liberdade que somente era guardiã de todas as formas de saber e indicar uma delas para ser seguida seria uma temeridade, pois todos os seres humanos se consideram sábios e sua indicação criaria uma casta. Liberdade agradeceu e continuou buscando como chegar à Perfeição Coletiva, pois estava em dúvida sobre a existência dessa cidade, tal era a quantidade de sinais contraditórios que ouvira. Religiosamente, cristãos, islâmicos, judeus, espíritas, hinduístas, budistas, chineses tradicionalistas, tinham certeza que sua crença era a única que habitava a localidade procurada. A Ciência, embora possuísse menos conflito entre as diversas linhas, indicava estar acima de todos os demais tipos de conhecimento e sempre habitara Perfeição Coletiva. E assim ocorreu com as mitologias. Gregos brigaram por Zeus, Poseidon, Apolo, Afrodite. Romanos defenderam que Júpiter, Ceres, Febo. Bascos reivindicaram que Basajaun, Tartalo, a serpente Sugaar eram os únicos mitos de Perfeição Coletiva. E assim foi com a Política:

-O Capitalismo esclarecendo que não é um sistema político, mas que imita a Mãe Natureza, onde o mais apto sobrevive e que cada um consegue o quinhão conforme suas habilidades. Alega ainda que o empresário é o burro que puxa a carroça e sem ele a sociedade seria muito pior. Outra colocação é que o socialismo não existe sem criar uma elite dominante, assim como foram e são todos os governos de esquerda. E o pior de tudo: facilita a criação de ditadores.

-A Esquerda alegando que o capital é a grande praga do ser humano, pois incentiva a exploração do homem pelo homem, que o correto é cada um viver conforme querem suas intuições e inspirações, que os empresários são todos criminosos e exploram seus empregados, que as minorias são marginalizadas.

-Os adeptos de um sistema republicano, à moda de Sócrates e Platão, defendem que, independente da política, tem que haver uma Justiça respeitada e cumpridora de sua função na sociedade, julgando e punindo corretamente.

E muitos, muitos outros sistemas políticos diziam ser Perfeição Coletiva sua cidade natal.

Desesperada, a Liberdade voltou a procurar a Sabedoria e disse a ela que não encontrara e rota para Perfeição Coletiva, pois eram infinitos os caminhos indicados e não tinha como seguir um, pois não deixaria de ser a Liberdade. Sabedoria estava em uma pequena reunião com três amigas e um amigo. Ao ouvir suas queixas, uma das amigas disse:

-Sou uma auto-estrada chamada Compreensão. Farei todas as matérias conectarem-se comigo. Prometo ser o ponto de partida do caminho à Perfeição Coletiva.

A segunda amiga se apresentou:

-Sou a Avenida Empatia, entrada principal de Perfeição Coletiva. Em mim o fluxo de todas as matérias se harmoniza e, devido à minha perfeita sinalização, os choques e desencontros não ocorrem de modo violento, sempre se resolvem no sob a égide do Entendimento.

A terceira amiga:

-Eu sou a Praça Solidariedade, fico no Centro de Perfeição Coletiva, onde todos se encontram contaminados pela Justiça.

-E você, o que faz, dirigindo-se ao homem.

A resposta;

- Eu faço tantas coisas, que nem sei o que lhe falar, Liberdade. Acalmo os corações, através da Compreensão, Da Empatia, do Entendimento, da Solidariedade e da Justiça. Devido a minha atuação é possível sonharmos com um radiante futuro para a Humanidade. Enfim, sou a arquiteto e urbanista de Perfeição Coletiva, onde convivem todas as crenças, todas as ciências, todas as ideologias políticas com Harmonia.

A Liberdade, vendo que assim preservaria a sua natureza e o dom da Individualidade, que é a maior característica de Deus, perguntou:

-Qual é o seu nome?

A resposta:

-Liberdade, eu sou o Amor.

Paulo Miorim 10/08/2020

Paulo Miorim
Enviado por Paulo Miorim em 10/08/2020
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