Lembranças de um amor medieval - O Templário e a Camponesa - Parte II

O suave canto dos pássaros, tão rotineiro quanto belo, já havia começado, anunciando que logo o sol demonstraria sua força e o mundo mais uma vez se iluminaria e começaria a lida do dia - um domingo, Dia do Senhor! Que importava, se não mais comparecia aos santos mistérios da religião? Seriam mesmo santos ou profanos? Por que não podia levá-la à igreja sem os olhos recriminatórios? Acaso o amor e a paixão deveriam morrer por diferenças tão tolas quanto o nascimento, o sangue de um homem e de uma mulher? Não! Jamais a trocaria por nada! Aliás, troquei a vida no castelo e as benesses de nobre por tudo que ela é! Sinto a fragrância das flores que lá fora enfeitam o campo nas redondezas de nossa casinha. Me lembram que é primavera e que ao meu lado está a maior das flores do reino, a simples e humilde menina mulher que me restituiu a alegria e o significado para viver. Tantas batalhas na Terra Santa, outras na França, sol escaldante e frio congelante... Nenhum acalento, nada de colo e pouca beleza. Apenas homens embrutecidos lutando para defender um deus que parece ainda pior que suas almas doentes. Por que não poderiam aceitar as diferenças? Quanto sangue, tantas mortes! Quantas cicatrizes no meu corpo! Mas lá estava ela ao meu lado. Apaixonado como nunca acariciei-lhe os cabelos, fios de puro fogo. Ela acorda e as esmeraldas que são seus olhos me contemplam com prazer e alegria juvenil. Tão verdes e suaves... Não sabia dizer quantas primaveras tinha, mas a julgar por seu encanto e jeito faceiro, muito de menina ainda tinha. Sempre trabalhara muito com a mãe e a irmã na pequena horta da família, cuidava dos animais, mesmo assim não ficara ainda embrutecida pela rotina. Era muito ligada ao pai, que há pouco perdera depois de uma queda. Ficara inconsolável, mas pouco depois apareci e a pequena tinha renascido. Sim! Meu amor por aquela menina-primavera não cabia num só corpo e tinha que extravasar, transbordar para o dela. Que os dois fossem mais uma vez um e sempre um! Ela pareceu entender meus pensamentos e amar o meu amor. Um sorriso celestial e depois as palavras que pelas manhãs ou antes do sono traziam o céu para a terra, para mim, que sabia que em seguida viria um canto de prazer e paixão entre as cobertas: "Meu cavaleiro"! A seu serviço minha senhora do campo!!! Como sou feliz!!!

José Pinheiro Júnior
Enviado por José Pinheiro Júnior em 02/12/2019
Reeditado em 02/12/2019
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