Na cama com você...
Já passa da meia noite.
Lá fora ouço os latidos dos cães.
Aqui dentro o vento desarruma tudo.
Olho em volta.
Eis o meu mundo.
A luz da Lua entra pela cortina entreaberta.
Estou nua.
Caminho entre as folhas de papel caídas no chão.
Acabei de escrever meu texto mais recente.
Mas algo apertava minha alma.
Sentia um nó na garganta sem saber de onde ele vinha.
Me aproximei da janela e deixei o ar frio
beijar a minha pele despida.
Por um instante, fui a pedra que o mar molda com firmeza.
Fui a estrela que nasceu de uma explosão cósmica.
Abri os braços.
Senti a seiva da vida pulsando dentro de mim.
Olhei para minhas mãos com as palmas viradas para cima.
Num instante fui o fogo que destrói,
mas fui também o calor que aquece o viajante cansado.
Meus seios saciaram a fome do andarilho errante.
Meus braços carregaram no colo aqueles que não
agüentaram a dureza da caminhada.
Fui a amante onde o guerreiro encontrou pousada depois da batalha.
Fui a noiva esperando o meu homem voltar do deserto.
Fui a esposa que sustentou o olhar do seu amor
dizendo-lhe que precisava partir.
Mas eu sabia que ele voltaria.
Então, deixei-o ir.
Ele precisava encontrar o seu destino antes de voltar a mim.
Eu já havia encontrado o meu. E sabia que essa busca não era nada fácil.
Abri os olhos.
Estava em meu quarto novamente.
Fechei a janela.
Apaguei a luz do abajur.
Não vesti minha camisola.
Sabia que encontraria o meu destino nos meus sonhos esta noite.
E não queria que nada atrapalhasse o nosso encontro...