Posse, aposse-me

Ah meu amor, que foi que eu não fiz?
E que por não fazer, você nem me quis?
Fala para mim o que você quer.
Algo há de querer!
Eu faço sem medo porque sei de uma honra,
que persiste no seu peito de cavalheiro errante.
Você caminha pelas ruas da sua vida,
algumas são avenidas e outras vielas;
deixe-me ao menos uma palavra numa delas.
Eu também ando pela minha vida e tão doída!
Algumas são avenidas, outras, também são vielas.
Você olha para o mar e muitas vezes não o vê,
E quantas vezes eu vejo o mar e não o olho,
porque ele é da dimensão exata do meu lamento!
E você, somente você, sabe da exatidão que falo.
Que poderia eu tirar-lhe, já que nem uma palavra você diz?
A imensidão do seu alheamento é tão profunda,
que diante dele, o medo assenhorou-se do meu mundo.
Em algum momento, entre o tempo, esse desconhecido;
você surgiu em mim e não sei o que fazer sem você.
Eu venho de muitas épocas e conheço tantas eras;
em nenhum lugar, em tempo algum, conheci alma tão severa!
Fico aqui no silêncio de cada noite e de cada dia.
Vou ficando na estação enquanto o trem parte sem direção...
Aceno para nada, para ninguém e me guardo em profunda solidão!
E mesmo que você negue de todas as formas, por todos os meios,
os seus olhos tão nus e cintilantes, não mentirão os seus
anseios.