O AMOR EM QUILÔMETROS

Recorda o que digo e diz pra ela que o fogo está vivo na memória porque a imaginei disponível pro vinho e para o frio. E como o inverno passa, o frio se vai... Só não se vão amores que são mais do que isso, como o nosso. Perdem-se de corpo, mas percutem dentro do coração. Os outros, quando batem, situam-se mais abaixo... Estes são como o Sol, o qual se aninha todos os dias ao cair da tarde, e na alvorada seguinte nem sempre pisca o olho como no dia anterior. Até porque não é o mesmo dia... Todos os amores são renúncias... Mas nos dão o gosto bom do viver. Assim a gente aprende a dividir com outros plácidos amores, platônicos como as flores dos brejos, mas que florescem todos os dias com a mesma beleza. Sofro pelo peso de existir vendo o bonito e o feio. Mas amanhã o sol nascerá de novo... Amor é sentimento único.

– Do livro CONFESSIONÁRIO – Diálogos entre Prosa e Poesia. Porto Alegre: Alcance, 2008, p. 85:6.

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