SOBRE O AMOR...
O amor é seletivo e delicado, feito de uma matéria-prima sutil e inefável. É como a seda quando ainda está sob o domínio do bicho da seda. É como o casulo onde a lagarta se esconde para transformar-se em borboleta. O amor é exigente. Não se entrega incompleto, não se permite o maltrato, só reside onde haja cuidado, onde se está preparado. O amor é como o mel quando separado da cera, ainda na flor, sendo extraído pelo experimentado bico de um beija-flor. O amor vem devagar, perscrutando o caminho, sondando os espaços, pisando de leve, falando baixo. Não tem pressa... Às vezes, até recua e dá meia volta e volta atrás. O amor não é leviano, se não há como ficar, se algo falta, ou se sobra, ele retorna e vai embora e, talvez, para nunca mais. É como aquele céu nublado, carregado de nuvens escuras, cheinho de água fresca para despejar sobre a lavoura, a terra seca, sobre o povo sedento e o pobre povoado. Mas, sabe-se lá o porquê, recua e esparsa. E o que era uma nuvem vira nada e no céu nada resta que não seja um azul anil iluminado. Quando o amor vem, sente-se. O amor traz o belo, o bom e o verdadeiro. Ele muda tudo em volta e tudo fica realmente melhor. É como uma revoada, o vento sacudindo as árvores, soltando as folhas secas, lançando fora os galhos finos e quebradiços. Refrescando o mundo, espalhando sementes invisíveis das plantas do porvir. O amor é assim... Ao menor sinal dele, tudo se renova e floresce. Sempre fica uma marca por onde o amor passou porque o amor não acaba, ele se transforma, transcende, expande, transmuta. Multiplica-se e preenche espaços, vazios e solidões. E onde houver amor, haverá disposição, alegria, esperança, compaixão e solidariedade, porque o fruto do amor é o próprio amor. O amor não é objeto, um bem que possa ser comprado, um bicho para ser domado, um ente a ser sacralizado. Não é uma instituição, um ritual, uma festa, um nascimento. Mas, o amor é quase uma criança, pois quase todas as crianças são o próprio amor. O amor é puro e purificador. Ele limpa e regenera, recupera, estabiliza, tranquiliza e torna tudo novo. O amor reconhece a sua morada, sabe quem o abrigou e para onde pode voltar e mesmo que tudo acabe, o amor permanecerá.
Adelaide de Paula Santos
25/01/2017 - Quarta-feira de sol,
Inspirada por Awaken love de Alan Powel