Releia-se!
Aí você digita. Para, relê e pensa: "não, tô pegando pesado". Redigita. Apaga de novo. E agora? "Mando ou não mando? Qual será o efeito das palavras? Será que chegarão como eu gostaria? Será que aproximarão como eu gostaria?". Você se aproxima do "enter". Chega a menos de um milímetro de distância da tela do celular. Pensa: "Não. Definitivamente; não é a hora". Você sente que o desejo pode ser o mesmo. Mas tem medo. Tem muito medo. Não sabe o que falar, como falar. Decidido a não falar nada, você sente que desperdiçou mais um dia. Mas reflete e conclui: "amanhã será um novo dia". Você pensa: quantas palavras são necessárias para se instalar no coração um sentimento daqueles que, quando alimentados, são difíceis de serem apagados? Não sabe em que momento, nem como, tudo teve início. Não se culpa por ter permitido que nascesse. Nem mesmo por estar alimentando dessa forma. Escrever sempre fora sua grande paixão, sua maior felicidade. Mas aí os tsunamis de sua vida vieram, devastaram-no e, mesmo sendo resgatado, você se deu conta que, com eles, se foram as palavras, a inspiração, sua coragem de gostar de alguém como já gostara antes. Quem lhe conhece bem, sabe que não foi pouco. Intensidade é seu sobrenome, você nunca se esquece disso. Então vem a vida e lhe mostra o quanto você estava enganado em muitos aspectos. Sentimentais, religiosos, elementares. Agora você não sabe se, à beira dos 30, age como um adolescente, gostando de alguém como está: "às escondidas". O que você tem certeza é que está leve. Está em paz. Sabe que, caso essa história não dê em nada, ela veio para lhe mostrar que você ainda possui um arsenal de palavras aí dentro. Você já não abre mais mão delas.