PERDÃO, AMOR!
Guardados na alma,
No fundo da alma,
Tenho traços tenros de um artista.
Tenho traços doridos de um golpista.
Tenho gozos da infância.
Tenho dores lacerantes da adolescência.
Tenho um ideal de vida.
Tenho um rio que me leva.
Um descedor, um jordão*.
Tenho no meu eu um conflito que,
Vez ou outra, me deixa aflito.
E quando o eu, que pretendo,
Cai no rio que subtrai a razão,
Então, sou afeto;
Poeta ou desafeto,
Elogio ou magôo.
Se magôo, em vão, sinto nojo.
E se, em vão, lhe magôo, amor,
Não sou eu quem lhe magoa,
Mas o rio que me leva...
Então, perdoe-me.
*Jordão, que é rio Jordão significa descedor por causa de sua grande inclinação e é o rio principal que corta a palestina.
Rio muito inclinado mas ao mesmo tempo com muitas curvas