será que é amor mesmo??!!
Sem dúvida essa pode ser uma das mais dolorosas questões que tenhamos que enfrentar na vida. Passei repentinamente por essa questão. Quando os problemas se tornaram recorrentes tive que encarar o fio da navalha da verdade, navalha não apenas porque corta as associações da alma e corpo separando as convicções errôneas das verdadeiras, mas também porque a verdade pode servir para promover o desapego ao que é ilusório. Então uma nova questão surge: afinal, porque algo que é da nossa natureza se torna tão traiçoeiro?
Pois bem, primeiro faço questão de dizer que estou grato de ter sido partido, e talvez você também tenha que o ser para poder contemplar a veracidade dessas afirmações. Acontece que essa carência de entendimento pode fazer confundir o que realmente o amor representa para nós, uma vez que ao criarmos diferentes formas de amor podemos estar poluindo esse sentimento tão puro de nossa consciência, acho que a própria já se encarrega de fazer esse trabalho, pois damos condições, designações e obrigações para esse sentir tão simples e profundo. Falo de diferentes tipos porque tendemos tornar tudo mais complexo do que realmente o é. Há sim diferenças na forma de amar um irmão ao companheiro, mas digo também que amar é um sentimento superior a qualquer forma que possamos condicioná-lo. Os poetas não poderiam estar mais certos em suas descrições mirabolantes sobre isso. Porque não há como mensurar esse toque que somente a alma pode dar e receber. Para mim é como olhar para a beleza do por do sol sem poder tocá-la. Infelizmente o dia não é de todo o por do sol, e a beleza se restringe a breves momentos.
Conta-se que Deus, ao criar o homem deu a ele capacidade de amar, mais o maior amor dele não foi esse, é simplesmente a capacidade de amar a todos nós incondicionalmente que nos faz tão únicos dentre suas criações. Então se amo alguém esperando receber a mesma entrega, o mesmo empenho, o crédito, a gentileza, a compreensão que dou, como posso chamar isso de amor? Se eu tivesse a capacidade de amar dessa forma, tão leve e dissociada, acho que o último que seria amado por mim era eu mesmo. Por essa razão, ainda que sustentasse a esperança de conseguir, ainda estaria dividindo a mim mesmo, só que dessa maneira, teria um pouco daquela recompensa inexplicável que por vezes chamam de altruísmo. Sei que as diferentes formas poluídas de amor estão apegadas em mim como manchas na pele, mas pelo menos estou mais feliz nesse momento, porque ao desabafar com essas palavras, tenho a esperança de que elas, quem sabe, o tragam momentos de contemplação e paz, ainda que tão breves quanto os últimos raios de luz do dia.