O amor pode nos deixar doentes!
Em qualquer cultura, raça, língua ou forma, o amor sempre terá uma força encantadora e transformadora, porém muitas vezes ele se manifesta em nós como um poder que nos deixa doentes, que nos torna cegos para nossa própria realidade. Não se pode negar jamais a força curativa do amor, mas torna-se cada vez mais preocupante e predominante as formas de amor que nos adoecem.
Quando crianças, precisamos do amor dos nossos pais e mães para crescermos saudáveis, e para mais tarde, também sermos capazes de amar. Recebemos o delicioso amor do nosso papai e da nossa mamãe, ah, que coisa maravilhosa. Porém, já nessa fase começa a nascer uma desigualdade entre o amor que recebemos e o amor que esperamos receber. Nós temos uma necessidade infinita em sermos amados, nascemos assim. E basta ter um pouco de sinceridade com nós mesmos para sabermos que não estamos totalmente satisfeitos com o amor que nos deram, mesmo que tenham nos oferecido com profundo carinho e desapego. Nossos pais deram o melhor que poderiam dar. Mas não deram o que ansiosamente esperávamos receber.
Pensando com um pouquinho mais de tempo e delicadeza sobre isso, vamos descobrindo que o amor de nossos pais e mães estavam misturados com outros motivos. Será? Sim. Porque muitas vezes, de forma até inconsciente e involuntária, eles amaram a nós quando éramos crianças pra compensar algo, e fizeram isso através desse amor, porque nossos pais e mães tão doces, quiseram nos dar o que eles mesmos não receberam quando eles eram crianças. Assim, esse amor por mais imenso que fosse, não era totalmente desinteressado, não era 100% incondicional, pois tinham segundas intenções. Em muitos casos, “painho” e “maninha” querem prender as crianças a si mesmos, isso tantas vezes irá impedir que seus filhos trilhem futuramente seus próprios caminhos. Experimentamos um amor super proteção, que sem maldade nos prenderam demais, prejudicando até nossa capacidade de amar as pessoas que entrarem em contato conosco. Tantas pesquisas comprovam e nem precisamos ir muito longe para constatarmos que a cada dia se torna mais difícil deixar a casa de nossos pais e mães. Morar longe de papai? Deixar a comidinha da minha mamãe? Deus me livre! Tantos casais hoje já deixam pré acertados que depois do casamento irão morar na casa dos pais, seja a da noiva ou a do noivo.
O amor adoece quando brota de uma carência muito grande. Nós, crianças adultas que nos tornamos, somos tão carentes de amor que ficamos cegos para o amor autêntico. Basta alguém nos dá algum tipo de atenção, que nos apegamos demasiadamente a esta pessoa. Agarramo-nos a qualquer um. Lembro bem de uma das minhas amadas amigas, um dia fomos comer comida japonesa, o garçom veio à nossa mesa nos atender, preferencialmente ele aproximou-se mais da minha amiga, inclinando o corpo em direção a ela, olhando bem em seus olhos, falou: “coração, o que desejas?” Como conheço bem minha amiga, pois trata-se de uma amizade de mais de 10 anos, ao fazermos o pedido, tendo o garçom ido providenciar nosso pedido, ela eufórica colocou os cotovelos na mesa, chegando com o rosto mais perto de mim, disse: “E aí? Viu como ele me tratou? Não é uma gracinha? Acho que daria certo com ele”.Confundimos muito, mas muito mesmo, atenção e até educação com amor. Temos mais medo de ficarmos sozinhos que da morte, assim quando alguém é gentil conosco, imaginamos ser isso amor, acabamos imaturamente nos entregando mais uma vez. A coisa é tão séria e assustadoramente tão comum, que muitas vezes por causa desse amor, as pessoas são exploradas, mas nem se dão conta dessa situação, e ai de quem tentar abrir-lhe os olhos, vira-se totalmente pra quem tentou fazer uma advertência. Contudo, como estas relações são alicerçadas apenas sobre a areia do mar, começam a ruir, afundam, rompendo-se. Vale também abrir um pouco mais os olhos e principalmente o coração pra assumir, reconhecer que a culpa não está somente no outro que não a amou como ela esperava, mas especialmente nela mesma, que estava cega. Em um determinado momento da vida uma pessoa agarra-se tanto em outra, que coloca o seu corpo, alma e coração nas mãos dela, esta outra pessoa sente-se oprimida, sufocada e qual a atitude que esta outra pessoa toma? Sim, livra-se desse grude, pois o fardo é grande demais. É tanta exigência, anseia tanto esse amor incondicional, espera que alguém apareça e venha curar essa carência. Infelizmente, pessoas que esperam demais do amor do outro, muitas e muitas vezes são incapazes de amar a si mesmas, de cuidarem de si, de valorizar-se. Uma verdade dura para nós, 99% dos nossos problemas, das nossas dores, das lágrimas que derramamos são causadas por nós mesmos. Se você encontra-se nessa secura, nesse vazio, aproveite este momento para tomar um decisão.
Assim diz o famoso psicanalista Erich Fromm, que “amar significa entregar-nos sem garantia, dar-nos completamente na esperança de que o nosso amor produzirá amor na pessoa amada. Amar é um ato de fé, e quem mesquinha a fé terá também um mesquinho amor”.
Concluindo a nossa conversa de hoje, primeiramente deverás aceitar a si mesma, a amar-se mais, mesmo que admita que tem inúmeros defeitos, que és frágil, que já quebrou a cara tantas vezes. É este amor-próprio e de forma saudável, onde sua personalidade reflete quem é você mesma, que dará a você um equilíbrio, tornando-a uma pessoa capaz de entregar-se, de desprender-se de si mesma e assim de forma livre e leve envolver-se com toda a pessoa que entrar em contato contigo.
Don Douglas, OP