Supersônico
Licença por entrar na sua vida, mesmo sabendo que parte da minha pode ser atingida a uns 1255 km/h. É isso o que chamamos 'Amor': Esse caça supersônico que arrasta metade da alma e deixa para trás o vento, o tempo e as incongruências. Num antigo Conto de Fadas, as nuvens eram de algodão; elas agora se extirpam entre luz e pó. A habitação do bem e do mal. O Amor devora o que antes parecia nítido demais, peculiar demais... Seu formato não tem medidas nem apreço. Amar dói, dói, dói o tempo inteiro e o que seria a dor senão a mais nítida essência do prazer? Blasfemo, mas, ainda, prazer. Então, peço perdão ao meu próprio templo-corpo por deixar-me doer e revirar-me nessa velocidade em que Vida nenhuma pode se manter. Eu peço passagem, também e, hora, a tempo. Que meu Amor não possa ser limitado como tantos, falsos e efêmeros; imprecisos e instáveis. Já que o risco é tão imenso e feroz, que seja dentro de uma imortalidade qualquer, enquanto o sopro divino nos mover. E ao ser atingida (bendiga o seu olhar), sem destroços aparentes, só a alma ardendo em chamas. Neste instante, o tempo parou: a eternidade era ali, entre partículas de gelo e água: Hoje, fogo!